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Exercícios Excêntricos Funcionais

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Li esse texto aqui e achei muito interessante. Logo, estou compartilhando:

As tendinopatias são causas freqüentes de afastamento do esporte em atletas amadores e profissionais.  Ainda que os dados epidemiológicos atuais não são muito precisos com relação à incidência desta patologia, estima-se que a prevalência de lesões nos tendões de Aquiles em corredores é de até 11%, e nos tendões patelares pode chegar a um 30% de todas as lesões relacionadas ao esporte.

Histologicamente, esta patologia pode caracterizar-se por alterações degenerativas e ausência de sinais inflamatórios, demonstrando evolucionar de maneira crônica e progressiva. Micro traumatismos repetitivos, associados a falha nos processos de cicatrização tecidual podem ser os responsáveis pela desorganização das fibras de colágeno, aumento celular e formação de novos capilares sanguíneos imaturos que estão circundados por estruturas nervosas altamente sensíveis a sobrecarga mecânica.

Diferentes formas de tratamento têm sido propostas para o controle da dor e aumento da capacidade de cicatrização tecidual. Em 1986, Stanish y col. baseados no conceito de que o treinamento muscular concêntrico-excêntrico provocava adaptações estruturais e aumento da síntese de colágeno, descrevem os exercícios excêntricos como proposta terapêutica.

Atualmente, séries de exercícios realizados com cargas supra máximas têm apresentado evidências cientificas de ser o tratamento conservador mais efetivo no tratamento das tendinopatias não relacionadas à zona de inserção tendinea
 

Programas de 6-12 semanas, executados 2x /dia, com cargas máximas e com amplitude de movimento em "zona dolorosa" demonstraram promover aumento da síntese de colágeno, diminuição de neovasclarizaçao patológica e diminuição da dor em diferentes estudos com metodologias variáveis.

Respostas sincrônicas entre as estruturas muscular e tendinosa sugerem que o aumento de carga promove aumento de força muscular e melhora das propriedades mecânicas do tendão como o aumento da capacidade de deformação elástica.

Alguns fatores biomecânicos podem ser uma explicação plausível e lógica para a boa evolução dos pacientes que apresentam tendinopatias e são tratados com essa modalidade terapêutica.

 

Alterações no plano frontal, como o aumento do movimento de adução femoral e maior pronação subtalar, são fatores predisponentes para maiores sobrecargas mecânica nos tendões de Aquiles e patelares.

Durante a fase inicial do tratamento com os exercícios excêntricos, o terapeuta deve orientar o paciente a realizá-los de maneira lenta e controlada. Desta maneira, conseguimos observar além de uma melhoria estrutural na zona miotendinosa, uma melhora da capacidade de coordenação de movimento e controle neuro muscular de toda extremidade inferior.

Quando falamos em reabilitar um atleta, não devemos pensar somente em alterações de força muscular na zona lesionada. Outros fatores como resistência muscular, fatores psicológicos e padrões inadequados durante a execução do movimento desportivo devem ser identificados para uma reabilitação efetiva e segura.

Na minha opinião, falhas biomecânicas em determinados movimentos devem ser identificadas e corrigidas com exercícios funcionais adaptados a cada esporte. Com a utilização do trabalho de força excêntrica dentro de um processo de reabilitação funcional, conseguimos promover não só uma melhoria local na estrutura músculo-tendinea, mas também a correção de alterações biomecânicas durante o gestual desportivo.

Os exercícios excêntricos são uma realidade cientifica quando falamos em tratamento conservador das tendinopatias. Entretanto, o trabalho funcional associado pode promover diminuição importante dos fatores de risco que geralmente ocasionam a lesão.
 
por Pedro Fagnani
 


Exercícios de alongamento previnem mesmo lesões musculares

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Exercícios de alongamento previnem lesões musculares? Definitivamente não, independente do que muitos ainda acreditem. Aliás, exercícios de alongamento não são apenas um desperdício de tempo, mas mas também podem facilitar a ocorrência de lesões musculares. A antiga idéia de que alongamentos com tempo de 20 a 30 segundos – conhecidos como alongamentos estáticos – está é absolutamente errada. Na verdade, alongar antes de praticar execícios físicos enfraquece os músculos levando-os a uma propenção maior a lesões.

Em um estudo recente realizado na Universidade de Nevada, em Las Vegas, os atletas estudados demonstraram uma capacidade menor de geração de força múscular das extremidades inferiores após o alongamento estático do que aqueles que não fizeram nenhum tipo de alongamento. Outros estudos encontraram que o alongamento muscular diminui em até 30 por cento a força muscular.

Há uma resposta neuromuscular inibitória ao alongamento estático. O músculo alongado torna-se menos reativo e fica enfraquecido por até 30 minutos após o alongamento, o que não é o que um atleta quer antes começar um treino.

O aquecimento correto tem duas funções: relaxar os músculos e tendões para aumentar a amplitude de movimento de várias articulações, e, literalmente, aquecer o corpo. Quando você está em repouso, há menos fluxo sangüíneo para os músculos e tendões, e eles ficam mais rígidos. Um bom programa de aquecimento começa aumentando a temperatura corporal e aumentando o fluxo sanguíneo. Os músculos quando aquecidos, e os vasos sangüíneos dilatados auxiliam na utilização do oxigênio encontrado na corrente sanguínea, e também utiliza o combustível armazenado nos músculos mais efetivamente.

Para elevar a temperatura do corpo, um aquecimento adequado deve começar com uma atividade aeróbica. A maioria dos treinadores e atletas já sabem disso há anos. Mas muitos atletas fazem essa parte do seu aquecimento demasiado intensa ou muito cedo. Um estudo feito em 2002 com jogadores de vôlei colegial, descobriu que aqueles que tinham aquecido e então voltaram a sentar no banco de reservas durante 30 minutos, apresentaram uma rigidez da coluna lombar muito maior do que apresentavam antes do aquecimento. Uma série de estudos recentes também demonstraram que uma rotina de aquecimento muito vigorosa simplesmente só faz você ficar cansado. A maioria dos especialistas aconselham a começar a sua corrida de aquecimento em cerca de 40 por cento de sua freqüência cardíaca máxima (um ritmo muito fácil) e então progredir para cerca de 60 por cento. O aquecimento aeróbico não deve tomar mais que 5 a 10 minutos, um período de recuperação de 5 minutos. (Sprinters requerem uma aquecimento maior, pois as cargas exercidas sobre os seus músculos são extremas.)

Enquanto o alongamento estático ainda é quase universalmente praticado entre atletas ele não melhora a capacidade dos músculos para executar atividades com mais potência. Você pode sentir-se capaz de alcançar mais perto dos chão após a realização de um alongamento dos músculos posteriores da coxa por 30 segundos, levando você a pensar que aumentou a disponibilidade músculo; mas na verdade, você só aumentou a sua tolerância mental para o desconforto do alongamento mas o músculo está na verdade mais fraco.

Alongar os músculos através da realização de movimentos ativos, é uma técnica conhecida como alongamento dinâmico, que aumenta a potência, flexibilidade e amplitude de movimento dos músculos. Os músculos aquecidos com movimento não recebem a mesma resposta insidiosa inibitória exercida pelo aquecimento estático, em vez disso recebem uma mensagem ativadora vinda do cérebro.

Alongamento dinâmico é ainda mais eficaz quando é relativo a esportes específicos. Ė necessário realizar exercícios de amplitude de movimento que ativem todas as articulações e o tecido conjuntivo que serão utilizados no esporte a ser praticado. Os atletas que precisam se mover rapidamente em direções diferentes, como jogadores de futebol, tênis ou basquete, po exemplo, devem fazer alongamentos dinâmicos que envolvem muitas partes do corpo.

Mas existem controvérsias sobre em que medida aquecimentos dinâmicos previnem lesões musculares. Estudos têm sido cada vez mais claros em demonstrar que o alongamento estático antes do exercício só faz pouco ou nada para ajudar. Um estudo publicado este ano pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, constatou que as lesões de joelho foram reduzidas quase pela metade entre jogadoras de futebol colegial, que seguiram um programa de aquecimento que incluiu exercícios de aquecimento dinâmico seguidos de alongamento estático. A maioria das lesões musculares ocorrem durante as contrações musculares dentro da faixa normal de movimento articular, o que levanta dúvidas sobre como aumento na variedade de movimentos pode diminuir o risco de lesões. O alongamento ajuda a manter a amplitude de movimento normal, que é importante, especialmente em pessoas com idade mais avançada.

Alguns estudos têm demonstrado os benefícios do alongamento. A maioria das pessoas que alongam, o fazem incorretamente, geralmente pulando e agachando, o que não aumenta a flexibilidade mas sim aumenta a tendência a lesões. Para alongar corretamente, você deve fazer o movimento lentamente aumentando a amplitude de movimento de uma maneira controlada.

Além disso, o alongamento pode ser prejudicial para os levantadores de peso, especialmente se eles realizam o alongamento logo antes ou entre as séries do treinamento de resistência. O alongamento reduz a resistência à ruptura das fibras musculares e está em contradição com a necessidade de uma forte contração do músculo para vencer a resistência e, assim, atingir o objetivo de fortalecimento.

Um aquecimento de qualidade promove intensidade suficiente para aumentar a temperatura intra abdominal sem causar fadiga ou diminuição no nos níveis e glicogênio nos músculos. Está claro que existem níveis ótimos de aquecimento, e que estes estão relacionados ao tipo de esporte, ao tipo físico do atleta e ao meio ambiente onde se está exercitando.

Conclusão

Se você alongar e, em seguida, fizer algum treinamento intenso, você não obterá bons resultados. Em vez disso, alongue ativamente, se possível utilizando movimentos que imitem os movimentos da atividade física a ser realizada.

O alongamento é essencial para se tornar mais flexível, mas tem que ser feito na hora certa e pelas razões certas. Se você ainda quiser alongar, alongue, mas faça com cuidado e somente depois que você estiver bem aquecido.

Fonte: Dra. Márcia Perretto (www.saúde-bem-estar.com)

 

Referências

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US Department of Health and Human Services. Alternative Warm-up program reduces risk of ACL injuries for female college soccer players.

Efeitos da Crioterapia na Dor Muscular Tardia

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A Dor Muscular Tardia (DMT) é um fenômeno que acomete pessoas que iniciaram uma atividade física, reiniciaram com grande volume ou intensidade, ou mesmo naqueles sem o hábito de praticar atividade física que exercem uma carga de exercício muscular vigoroso.

A dor e o desconforto geralmente iniciam-se algumas horas após o término da atividade física, sendo mais intensa em torno de 24 a 48 horas. Não há história de episódio traumático e não é necessariamente relacionado com a fadiga muscular. Os efeitos das microlesões musculares geradas durante a realização de exercícios não habituais ou exercícios excêntricos são bem documentados na literatura médica. São muitos os fatores envolvidos na geração da dor muscular tardia (DMT), o que explica as limitações na prevenção e no diagnóstico preciso.

A DMT e os decréscimos na função muscular são alterações encontradas após a realização de exercícios excêntricos (tensão muscular maior do que a força de contração, gerando alongamento das fibras). A inflamação gerada após o exercício eleva-se à medida em que ocorrem microroturas de fibras musculares. As lesões induzem uma resposta inflamatória com migração de células e liberação de substâncias, que promovem a remoção dos tecidos lesados e estimula a reparação.

A duração e a intensidade da DMT, as alterações da contração muscular e a presença de substâncias químicas marcadoras da lesão na circulação sanguínea, podem variar dependendo da duração, intensidade e o tipo de exercício realizado.

Muitos pesquisadores tem procurado aliviar ou prevenir os sinais e sintomas decorrentes da lesão muscular induzida pelo exercício, que caracteriza a dor muscular tardia.

Dentre as estratégias de tratamento existem: o alongamento, os métodos de fisioterapia (ultrasom), a massagem, a suplementação com antioxidantes e a admnistração de antinflamatórios .

Mais recentemente ,a atenção tem sido dada à crioterapia (tratamento com gelo), no auxílio da recuperação da lesão muscular induzida pelo exercício.

A crioterapia pode ser considerada uma modalidade de tratamento interessante e de fácil acesso na abordagem da inflamação gerada pelas microlesões musculares induzidas pelo exercício. O propósito da crioterapia é reduzir o processo inflamatório, o edema (inchaço), a formação de hematoma e também reduzir a dor.

O papel da crioterapia na abordagem das lesões esportivas é bem documentado, embora as bases científicas de sua aplicação nas lesões musculares induzidas pelo exercício ainda permaneça incerta.

Alguns estudos tem focado no papel da crioterapia nos indices de lesão muscular após exercícios excêntricos de musculos isolados.

A imersao em agua gelada (10 a 15 graus), tão frequentemente utilizada nas modalidades do atletismo, apresenta beneficios relacionados à redução do edema, da tensão muscular e da atividade de algumas substâncias químicas.

Alguns indivíduos apresentam, após a imersão em água gelada, menor percepção de dor muscular até 48 horas depois do exercicio e apresentam um menor decréscimo da contração voluntária máxima. Alguns autores atribuem também a diminuição da percepção da dor muscular ao efeito analgésico da água gelada.

A redução da temperatura muscular entre 10 e 15 graus provoca redução da velocidade de condução nervosa, modifica a atividade do fuso muscular (estrutura importante na regulação do tônus muscular), podendo diminuir a dor

Os mecanismos precisos responsáveis pelo alívio dos sintomas após a imersao em água gelada, ainda precisam de mais estudos, embora a sensação de bem estar seja percebida pelo atleta após a realizaçação da técnica.

Diagnóstico precoce é essencial na recuperação de lesões no ombro de praticantes de esportes

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As dores no ombro têm se tornado um problema comum entre os amantes do esporte, principalmente entre os jogadores de modalidades como, vôlei, basquete, tênis e natação. Por ser a articulação de maior mobilidade do corpo humano, o ombro torna-se mais vulnerável a lesões. Segundo o médico ortopedista do Hospital Samaritano, de São Paulo, Nemi Sabeh Junior um dos problemas mais frequentes são as lesões do manguito rotador.

— O manguito rotador é formado por um conjunto de músculos que permitem os movimentos e estabilidade do ombro. Sua lesão pode ocorrer devido à degeneração ligamentar, traumatismo e pelo uso excessivo da articulação, ou seja, através de atividades realizadas com as mãos acima da cabeça — explica Sabeh Junior.

O especialista explica que a dor no ombro é o sintoma principal, ocorrendo durante as atividades que exigem a elevação do membro superior e no período noturno.

— Dentre as fases de evolução da doença podem ocorrer edemas, fibroses, inflamações e até mesmo a ruptura do tendão em casos mais graves. O seu tratamento consiste em retorno precoce a atividade, alivio da dor e força. Após o controle da dor e da melhora da mobilidade a fisioterapia na fase precoce é o principal tratamento. A cirurgia é algumas vezes necessária, quando a lesão é particularmente grave, — ressalta.

Sabeh Junior aconselha que aos primeiros sinais de dor, edema e, principalmente, perda da amplitude de movimento deve-se buscar uma avaliação médica com um ortopedista, que encaminhará o paciente para um serviço de fisioterapia caso seja realmente necessário.

— Uma detecção precoce pode ser fator crucial na reabilitação do paciente — destaca.

Como evitar lesões pedalando: ciclismo e spinning

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Pedalar tem sido uma das atividades mais procuradas, tanto por pessoas que desejam iniciar uma atividade física como por aquelas que já praticam esportes ou freqüentam academias.

Pedalar regularmente, além de queimar muitas calorias (em média 800 kcal em 1 hora) e ajudar no emagrecimento, fortalece os músculos, melhora o condicionamento cardiorrespiratório e também aumenta a resistência e a força muscular.

Mas, como qualquer atividade física, para conseguir bons resultados ou mesmo para deixar o sedentarismo de lado, você deve praticar o exercício corretamente, evitando lesões.

As partes do corpo mais propensas a lesões para quem pedala, desde ciclistas de rua até alunos de spinning são:

  • joelhos;
  • pescoço;
  • coluna;
  • mãos;
  • região pélvica;
  • virilha;
  • pés.

Para evitar as lesões, devemos tomar algumas precauções, tais como:

Alongar a musculatura antes e depois de pedalar, pois através do alongamento você prepara os músculos para o exercício, aumenta o seu desempenho físico, reduz a referência a músculos doloridos, reduz a tensão e também as lesões.

Faça os seguintes exercícios de alongamento:

  • Coloque um dos pés na bicicleta entre o guidão e o banco e estenda a perna, forçando as pontas dos dedos para trás, alongando a parte posterior da perna. Flexione levemente a outra perna que está apoiada no chão. Leve o tronco à frente, formando um ângulo de 90 graus com a perna que está estendida.
  • Segure na bicicleta com uma das mãos. Pegue o outro pé com a mão que está livre e puxe-o de encontro às nádegas. Projete o quadril para frente e alongue a parte da frente da perna.
  • Segure na bicicleta, afaste as pernas no sentido antero-posterior (uma na frente da outra). Flexione a perna da frente e estenda a perna que está atrás, mantendo os calcanhares no chão.
  • Fique na posição de joelhos no chão. Apóie o joelho de trás numa toalha ou colchonete e o pé da perna da frente no chão. Mantenha o joelho da perna da frente na direção do calcanhar. Projete o quadril para frente, alongando a parte anterior da coxa.
  • Deite de costas e traga os dois joelhos para junto do peito. Segure as pernas contra o peito, alongando a lombar.
  • Deite estirado no chão, de barriga para cima, mantenha uma das pernas estendida e segure a outra perna pelo tornozelo cruzando por cima da perna que está estendida. Apóie o pé no chão.
  • Alongue o pescoço para um lado e depois para o outro.
  • Mantenha cada posição por 30 segundos

    Outro fator muito importante para evitar lesões é a regulagem da bicicleta e a sua postura para pedalar. Se a bicicleta estiver regulada de maneira incorreta, a sua postura se tornará incorreta e, se feito regularmente poderá causar lesões.

    Ajustando a bicicleta corretamente você distribui melhor o seu peso entre o assento, os pedais e o guidão de forma que o sistema esquelético possa suportar este peso e não sobrecarregar os músculos mais participativos no ato de pedalar.

    A maioria das bicicletas ergométricas permite ajuste de guidão e assento com variáveis de uma polegada usando o sistema de orifícios de encaixe com pino. Mas há bicicletas, principalmente as de spinning, que permitem também o ajuste na altura e frente/trás do assento e na altura frente/trás do guidão.

    A altura do assento está diretamente relacionada com o cumprimento dos membros inferiores do aluno. Fique em pé do lado da bicicleta. O assento deverá estar na altura do seu quadril.

    A altura do guidão deve permitir que você mantenha as costas retas, os braços relaxados (não tão perto do corpo, para não curvar as costas).

    Não se esqueça:

  • Mantenha a cabeça alinhada a coluna e o pescoço relaxado;
  • Relaxe também as mãos, os cotovelos e os ombros;
  • Ajuste o firma-pé;
  • Prenda os cadarços;
  • Evite o "pé de bailarina", deixe o pé na posição normal, paralelo ao chão, evitando problemas como fascite plantar e tendinites;
  • O joelho não deve passar a ponta dos dedos, durante o movimento;
  • Mantenha uma toalha por perto para enxugar o suor das mãos evitando que você escorregue do guidão;
  • Não movimente o quadril lateralmente, evitando problemas como bursite no trocanter do fêmur (articulação do quadril);
  • Não jogue o peso do corpo nos membros superiores, distribua o peso, mantendo a coluna reta e os membros superiores relaxados.
  • Concluindo:

  • Faça alongamentos;
  • Verifique a postura;
  • Pedale dentro do seu limite;
  • Use um vestuário correto;

  • Video: Exemplo de exercicios - Reabilitação de Joelho - Atleta Olimpico

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    Tratamento realizado com o atleta olímpico Silvio Laureano após cirurgia de joelho (reconstrução do ligamento cruzado anterior). Fisioterapeuta Sergio Nery.

    Meias de compressão reduzem a sensação de cansaço nas pernas

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    As meias de compressão foram criadas para ajudar a reduzir a sensação de cansaço e peso nas pernas após provas e treinos longos, diminuindo o risco de lesões. As meias têm a função de barreira elástica para os músculos da panturrilha, comprimindo a musculatura e melhorando o retorno venoso, que aumenta o fluxo sanguíneo na região. Por conta disso, há uma maior oxigenação e remoção de lactato, responsável pela regeneração mais rápida da área afetada. As meias de compressão podem ser encontradas em lojas de produtos esportivos, com preços que variam de R$39 a R$190.

    Meia de compressão eu atleta (Foto: Reprodução)Meias de compressão aceleram a recuperação após o exercício (Foto: Reprodução)

    Como usar

    A eficácia cientificamente comprovada do uso das meias de compressão é dada após os treinos e as provas, para reduzir o inchaço e promover a rapidez na recuperação muscular em 38%, segundo o fisioterapeuta David Homsi. Existem atletas que utilizam as meias antes e durante as competições, mas não há comprovação de que este uso realmente funcione.

    Testamos

    Meias de compressão ajudam a diminuir a sensação de cansaço e de peso nas panturrilhas, favorecendo o desempenho e diminuindo o risco de lesões, principalmente daqueles que percorrem grandes distâncias. 

    Meias de compressão  (Foto: Divulgação)As meias de compressão favorecem o desempenho do atleta (Foto: Divulgação)

    No caso das Meias X2U, isso ocorre graças a um ajuste graduado através de uma malha circular e um poderoso sistema de fios antimicrobianos para melhorar a circulação do sangue, o que possibilita o aumento do fluxo de oxigênio com uma remoção mais rápida de lactato e diminui o desconforto e fadiga.

    No modelo de corrida (Race Sock) há canais de ar que permitem uma melhor ventilação da área e impede a retenção de umidade, além de oferecer uma proteção e maior conforto para os dedos. Já o modelo Recuperação permite uma estabilização dos músculos e ligamentos, acelerando o processo de descanso.

    "Dor do lado" durante a corrida pode ser causada por má postura

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    Nova teoria sugere que pode não ser o diafragma o responsável pela dor ao correr, mas a má postura

    Para muitos corredores entusiasmados, aquela dor que sentimos na lateral da região do abdômen (às vezes chamada de "dor desviada" ou "dor do lado") pode ser um problema enlouquecedor: os espasmos ocorrem de repente e podem arruinar um bom exercício. Embora ninguém saiba a causa precisa, muitos especialistas acreditam que essa dor ocorre quando o diafragma - vital para a respiração - trabalha demais durante uma corrida vigorosa e começa a ter espasmos. Corredores que apresentam essas dores geralmente são aconselhados a diminuir o ritmo e fazer respirações profundas e controladas.

    Mas uma nova teoria sugere que pode não ser o diafragma o responsável pela dor, e que a culpa pode ser da má postura. Num estudo recente, pesquisadores usaram um dispositivo para medir a atividade muscular enquanto pessoas sofriam essas dores laterais. Eles não encontraram nenhuma evidência de aumento de atividade ou espasmos na região do diafragma durante essas dores.

    No ano passado, a mesma equipe publicou um estudo separado no "Journal of Science and Medicine in Sport". Eles descobriram que as pessoas que regularmente apresentavam má postura ou tinham as costas curvadas tinham mais tendência a sofrer dessas dores laterais; quanto pior sua postura, mais severas eram as dores durante o exercício.

    Uma explicação para isso é que correr com má postura pode afetar nervos que vão da parte superior das costas até o abdômen. Outra hipótese é que andar curvado aumenta a fricção sobre o peritônio, uma membrana que circunda a cavidade abdominal. Isso também pode explicar por que a respiração controlada parece ajudar a aliviar as dores: respirar fundo enche os pulmões e melhora a postura.

    Conclusão: melhorar a postura ao correr pode aliviar as dores laterais popularmente conhecidas como "dor desviada".

     


    Veja as lesões mais comuns da corrida

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    As lesões são talvez o maior pesadelo da vida dos corredores. Por mais que fujam, nenhum deles está ileso de conviver com (ou sentir pelo menos uma vez) dores nos pés, um estalo estranho no joelho, músculos tensos aqui ou ali. Mesmo as dores que não tiram totalmente o corredor dos treinos são um alerta de que algo está errado. É preciso cuidar para não parar de vez no estaleiro. E, se a dor persistir, procure um médico. Conheça as cinco lesões mais comuns na corrida e como se livrar delas.

    Síndrome da banda iliotibial
    A dor: na lateral externa do joelho. Em estágio inicial, ela aparece apenas nos treinos, dependendo da intensidade. Nos quadros mais avançados, a dor persiste durante todo o dia.
    O que é: a banda iliotibial é uma fáscia que vai do quadril (osso ilíaco) até a parte superior da tíbia, pelo lado externo da coxa. "Na corrida, com o movimento de flexão dos joelhos, pode haver atrito entre a banda iliotibial e o fêmur, o que leva à inflamação do tecido", explica o ortopedista José Marques Neto, do Instituto Vita, de São Paulo.
    O que causa: tíbia vara (perna curvada para fora), músculos glúteos e abdutores fracos e/ou encurtados ou diferença de comprimento entre as pernas. Correr em terrenos inclinados ou com muitas curvas pro mesmo lado sempre (como em pista) também pode desencadear a lesão. "O aumento excessivo de volume de treino também pode levar à síndrome. Ele, aliás, é uma das causas de todas as outras lesões que costumam surgir nos corredores. É preciso ir devagar, evoluir sem pressa", diz Marques Neto.
    O que fazer: coloque gelo no local da dor, durante 20 minutos, pelo menos duas vezes ao dia, e alongue e fortaleça os músculos posteriores e laterais (abdutores) da coxa. Para aliviar o desconforto, use um rolo de espuma. Deite com a lateral da coxa sobre ele e role, massageando do quadril até o joelho.

    Tendinite patelar
    A dor: logo abaixo da patela, na frente do joelho. Ela geralmente surge depois dos treinos, e não durante a corrida. Em estágios avançados, tende a ser constante e piora ao descer escadas e fazer percursos em descida.
    O que é: inflamação do tendão que vai da patela (antes chamada de rótula) à parte anterior da tíbia.
    O que causa: postura errada na corrida (como projetar o corpo demais para frente), desequilíbrio muscular entre as partes posterior (de trás) e anterior (frente) da coxa, com excesso de treino, sobrepeso. O encurtamento da musculatura anterior da coxa
    O que fazer: coloque gelo no local da dor, durante 20 minutos, pelo menos duas vezes ao dia, e alongue e fortaleça os músculos do quadril e da coxa. Não faça exercícios que tenham saltos. E evite correr em descidas e a cadeira extensora, pois a tendinite piora com a extensão dos joelhos. "Pelo menos num primeiro momento, quando a inflamação está mais aguda", alerta o ortopedista José Marques Neto.

    Canelite (estresse tibial medial)
    A dor: na parte da frente da canela, parece uma queimação. O que é: inflamação na região medial da perna - pode ser do tendão, músculos ou da camada que recobre a tíbia (osso da canela).
    O que causa: pé chato ou com o arco do pé muito alto, panturrilha encurtada, excesso de pronação, excesso de treino, sobrepeso, uso de tênis inadequado (ou muito velho). "A grande maioria dos casos de canelite está associada ao abuso nos treinos, seja na intensidade ou na frequência", explica o ortopedista José Marques Neto.
    O que fazer: coloque gelo no local da dor, durante 20 minutos, pelo menos duas vezes ao dia, alongue panturrilha e o tibial anterior. Invista no fortalecimento da musculatura anterior da canela, além de fazer musculação para quadríceps, posterior da coxa (isquiotibiais), panturrilha, adutores e abdutores.

    Tendinite calcânea
    A dor: no tendão de Aquiles, atualmente chamado de tendão calcâneo. Costuma ser pior nos primeiros passos do dia.
    O que é: inflamação no tendão (antes de Aquiles, hoje calcâneo). O que causa: pronação excessiva, encurtamento e enfraquecimento da panturrilha, excesso de treino, sobrepeso, aquecimento inadequado.
    O que fazer: coloque gelo no local da dor, durante 20 minutos, pelo menos duas vezes ao dia, alongue a panturrilha e repouse. Uma palmilha ou até mesmo uma calcanheira de silicone costumam ajudar. "Eles levantam a parte de trás do pé, o que dá certo conforto", explica o ortopedista José Marques Neto. Quando a dor melhorar, fortaleça os membros inferiores, em especial a panturrilha. "Invista em exercícios excêntricos, aqueles em que o músculo faz a contração ao mesmo tempo em que está se alongando", diz o médico.

    Fascite plantar
    A dor: na sola do pé. Tende a ser pior nos primeiros passos do dia.
    O que é: inflamação da fáscia, tecido que reveste a sola do pé, do calcanhar aos dedos.
    O que causa: retração da musculatura da parte posterior dos membros inferiores, excesso de treino, sobrepeso, uso de tênis inadequado (ou velho), pé muito plano ou muito cavo.
    O que fazer: coloque gelo no local da dor, durante 20 minutos, cerca de cinco vezes ao dia, nas primeiras 48 horas em que se sentiu a dor. Uma boa dica é rolar uma garrafa de água congelada sob os pés. Alongue a panturrilha e a sola do pé. O uso de palmilhas sob medida é indicado, para levantar a parte de trás do pé e dar um melhor suporte ao arco.

    Lesões da coluna lombar no jovem atleta

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    INTRODUÇÃO

    Lesões na coluna lombar têm sido observadas no jovem atleta e atualmente estão aumentando em freqüência nas clínicas esportivas. Lesão e dor recorrente nas costas podem limitar drasticamente a capacidade do atleta de participar em sua modalidade. Enquanto a anatomia relativamente normal da coluna possa permitir amplitude aumentada da performance antes que o dano de estrutura ocorra, a dor nas costas ainda é relativamente comum. São exemplos a dança, a ginástica e a patinação artística. Sward et al. observaram que, de 142 atletas de elite na Suécia, a incidência de dor lombar variou de 5 a 85%, dependendo do esporte1.

    Anteriormente, a coluna lombar tem cinco corpos vertebrais ligados pelos discos intervertebrais. O canal neural fica centralmente, contendo nervos periféricos com revestimento dural. Dorsalmente, estão localizados os elementos posteriores da espinha: as facetas, os processos transversos, os processos articulares e os pedículos. A lordose lombar normal é de 45 a 50 graus. Alinhamentos estruturais anormais, como hiperlordose da espinha lombar ou "coluna estruturalmente plana", podem ser fatores para provocar dor lombar.

    Lesões da coluna lombar geralmente resultam de dois padrões de geração de força: evento único, macrotrauma agudo ou microtraumas repetitivos com o resultado de lesões de overuse. Lesões de overuse são vistas, mais comumente, nos elementos ósseos posteriores, particularmente nos processos articulares. Alguns pesquisadores têm sugerido que são a flexão e a extensão repetitiva que levam à concentração de estresse nessa região, já que este é o local da rotação da espinha durante a flexão e extensão2.

    Uma série de estudos recentes tem empregado a imagem por ressonância magnética (RM) para demonstrar mudanças na coluna causadas por microtraumas repetitivos. Sward et al., em recente estudo, compararam 24 ginastas masculinos de elite com 16 homens não atletas de idades semelhantes3. Através da RM, os autores encontraram evidência de aumento significativo de degeneração de disco nos atletas (75%) em comparação com os não atletas (31%). Os ginastas tinham também maior incidência de outras anormalidades na coluna toracolombar. Em estudo similar, Goldstein et al. sugeriram que ginastas que treinam mais que 15 horas por semana mostram aumento significativo da incidência de alterações degenerativas na coluna lombar4.

    O padrão das lesões lombares é completamente diferente no atleta idoso, no qual a coluna já passou pela degeneração segmentar relacionada com a idade. A lesão é mais comumente iniciada nos elementos da parte anterior do disco, ocasionando dor discogênica e ciática. O crescimento excessivo do osso nas facetas pode comprometer os recessos laterais ou o forame intervertebral, resultando em compressão do nervo espinhal. Uma mínima torção ou lesão pode resultar em lesão do nervo espinhal ou irritação associada com inchaço e dor.

     

    DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

    Existem quatro categorias principais de dor na coluna lombar observadas em jovens atletas: mecânica, discogênica, espondilolítica e fratura do corpo vertebral.

    A dor mecânica da coluna é a etiologia mais freqüente, sendo usualmente um diagnóstico de exclusão no jovem atleta, uma vez que o exame físico tenha descartado espondilólise, doença de disco ou fratura. A dor pode resultar de estimulação anormal do nervo na faceta.

    Fatores mecânicos e músculo-esqueléticos, como lordose postural e tensão excessiva da musculatura extensora ou fraqueza dos abdominais, podem ser fatores de risco para essa etiologia. A postura hiperlordótica é usualmente vista em bailarinas e ginastas. Em muitas dessas atletas, a hiperlordose é geralmente postura adquirida e potencialmente reversível com exercícios terapêuticos adequados. As únicas queixas podem ser coluna dolorida associada com posição prolongada de pé ou sentada, ou após atividades de treinamento esportivo. Técnicas de diagnóstico como radiografias simples e cintilografias são normais.

    Em muitos atletas jovens, essa condição pode representar uma "síndrome de supercrescimento" transitório. Os elementos ósseos crescem mais do que os ligamentos e tendões durante esse segundo estirão de crescimento da adolescência, resultando em combinação de aperto da fáscia toracolombar e dos isquiotibiais posteriores, músculos abdominais anteriores fracos e deslocamento posterior do dorso sobre a pelve. Demandas anormais podem então ser colocadas na coluna torácica durante a flexão anterior, considerando a contratura a extensão da coluna lombar. Pode-se compensar esse desequilíbrio estrutural adotando postura curvada para trás.

    A dor discogênica da coluna é rara na criança pré-púbere, mas a incidência no adolescente, particularmente no adolescente atleticamente ativo, parece estar aumentando. Isso deve ser também incluído no diagnóstico diferencial. Um estudo desenvolvido na Clínica Mayo mostrou correlação no aumento da incidência de doença discal resultando em dor lombar e compressão do nervo isquiático com o aumento da participação em atividades esportivas nesse período em um grupo de adolescentes5. Esportes envolvendo a compressão axial e flexão estão tipicamente associados a essa lesão. O aumento da disponibilidade e a segurança da técnica de imagem por ressonância magnética têm geralmente ajudado no diagnóstico precoce dessa condição.

    A apresentação clínica dessa doença no atleta jovem é geralmente muito diferente daquela do adulto. A dor nem sempre é a queixa principal. A maior queixa pode ser contratura nas costas, passadas anormais ou perda notável na flexibilidade dos isquiotibiais.

    Ao exame, contratura dramática da fáscia toracolombar e dos isquiotibiais freqüentemente é encontrada, geralmente associada com escoliose lombar reativa ou escoliose toracolombar. Teste positivo ao levantar a perna esticada ou sinal de Lasègue pode refletir irritação ciática. Encurtamento assimétrico de isquiotibiais pode, às vezes, ser o único aviso da hérnia de disco. A perda de reflexos ou a diminuição da massa muscular são incomuns.

    Radiografias da coluna lombar no início são geralmente insignificantes, apesar de poderem ocasionalmente mostrar diminuição do espaço discal ou irregularidade das superfícies dos corpos vertebrais no nível do envolvimento. A tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) geralmente fornecerão o diagnóstico. Exposição excessiva à radiação da região lombar com a TC faz com que a RM seja o exame de escolha para essa faixa de idade.

    Atletas mais jovens com dor discogênica podem ter tendência genética para deterioração da coluna lombar. Uma série de atletas que vem para nossa clínica com dor discogênica e isquiática mostrou evidência de doença em diversos níveis, indicando, então, possível tendência familiar precoce. Essa informação é, em geral, primeiramente adquirida durante a anamnese de pré-participação em esportes e no processo de triagem. Possível predisposição anatômica para doença discal do adolescente tem sido também sugerida, com canal espinhal em forma de trevo e pedículos curtos, aumentando as chances de protrusão discal sintomática6.

    Recomenda-se inicialmente o tratamento conservador com repouso no leito e antiinflamatórios não-esteróides com mobilização progressiva. A imobilização e o exercício têm sido efetivos para aliviar os sintomas e para o retorno desses jovens atletas às atividades esportivas7. Em nossa experiência, a intervenção cirúrgica é raramente necessária. Poderá existir alta incidência de queixas constantes de coluna nesses pacientes como adultos, mas o efeito da participação atlética continuada na história natural é desconhecida5. Seis a 12 meses de repouso relativo e reabilitação podem ser necessários antes de retornar às competições.

    Hoje, a espondilólise como causa de dor na coluna em jovens atletas parece estar aumentando em freqüência. O mecanismo de lesão é o microtrauma repetitivo da flexão, extensão ou rotação, podendo resultar em dano para todos os elementos posteriores da coluna lombar, incluindo os processos articulares, as facetas, os pedículos, a lâmina e os processos espinhais. Contudo, o processo articular é o local mais comum de lesão. Estudos têm sugerido que a hiperextensão, em particular, resulta em estresse de cisalhamento nessa região, com eventual fratura de estresse8.

    Inicialmente, o atleta é sintomático apenas durante certos movimentos desportivos. A dor freqüentemente se torna progressiva e mais intensa com as atividades da rotina diária, ou mesmo ao repouso. Ela é tipicamente aliviada pela posição supina ou simplesmente reduzindo o programa de exercícios. Ocasionalmente, um evento de macrotrauma único e agudo pode resultar no aparecimento de dor.

    A incidência de espondilólise em dançarinas parece ser maior do que na população em geral, talvez equivalente à alta incidência encontrada em ginastas9.

    Espondilólise ocorre apenas em bípedes, como os humanos. Um estudo desenvolvido num grupo de pacientes de instituições que nunca caminharam mostrou que o risco de espondilólise no processo articular foi quase zero10. Contudo, parecem mesmo existir fatores de risco genéticos. Associação de espondilólise com espinha bífida oculta em 20% de jovens atletas tem sido encontrada em estudos anteriores11.

    Novamente, o exame físico geralmente revela postura hiperlordótica, com limitação de movimento de flexão lombar isenta de dor na coluna lombar, mas com dor ao provocar hiperextensão. Um achado positivo com o teste de hiperextensão é usualmente indicativo de lesão em um elemento posterior. O atleta, ao manter-se em uma perna e, então, na outra, irá manifestar dor enquanto hiperestender a coluna. A dor é geralmente exagerada no lado ipsilateral do defeito patológico durante essa manobra. Encurtamento dos isquiotibiais e perda da flexibilidade podem acompanhar esses achados.

    Radiografias oblíquas iniciais, assim como ântero-posteriores e laterais da coluna lombossacra, podem demonstrar fraturas estabelecidas nos processos articulares. Contudo, se esses estão normais, deve-se realizar cintilografia óssea da coluna lombar com tecnécio-99 e câmara SPECT. Temos visto que cintilografias simples isoladas podem dar falso-negativos. Cintilografias com câmara SPECT podem detectar essas fraturas de estresse antes que a integridade do osso tenha sido perdida e fratura completa tenha sido desenvolvida. Desnecessário dizer, a detecção precoce pode resultar em incidência muito maior de cura dessa lesão. Geralmente empregamos imobilização e exercícios antilordóticos para tratar essas lesões iniciais por período de seis meses11.

    Ocasionalmente, a dor isquiática pode estar associada à espondilólise. Isso pode ser devido a compressão da raiz do nervo L5 causada por hiperplasia do tecido sinovial e fibroso no local da pseudartrose, ou associada a doença de disco. Nesses casos, a RM pode ser útil para o diagnóstico diferencial. Oitenta e cinco por cento das lesões são na L5 e, quase todas as outras, em L4.

    Microfratura do corpo vertebral na margem anterior é a quarta causa de dor lombar no jovem atleta. Essas fraturas parecem ser o resultado de microtrauma repetitivo, geralmente a flexão repetitiva que lesiona as porções anteriores dos corpos vertebrais e pode levar a franco acunhamento e à formação do nódulo de Schmorl. O local mais freqüente do envolvimento em jovens atletas é na junção toracolombar, tipicamente um ou dois níveis vertebrais, mas pode envolver três ou mais. Essas lesões têm sido denominadas "doença de Scheuermann atípica"12. Geralmente, isso ocorre em ginastas que começam seu treinamento antes dos cinco anos de idade13. Sorensen caracterizou "Scheuermann clássica" como o acunhamento de pelo menos três níveis vertebrais da coluna torácica com nódulos de Schmorl e curvatura estrutural posterior14. Alguns casos que preenchem os critérios de doença torácica de Scheuermann verdadeira podem, na verdade, ser o resultado de contratura de extensão lombar grave com demanda de flexão excessiva transferida para a coluna torácica e resultando em fratura vertebral de placa anterior com deformação óssea secundária da vértebra13. Observa-se esse tipo de lesão em esportes como remo, ginástica, dança, tênis e mergulho.

    O alinhamento sagital da coluna com hipolordose lombar e hipocifose torácica (coluna com "aplanamento" das curvaturas) parece aumentar a suscetibilidade para Scheuermann atípica na junção toracolombar. A fáscia toracolombar tensionada, causando flexão anterior a ocorrer na coluna dorsal mais do que na coluna lombar baixa, pode também ser um fator. Radiografia simples é geralmente suficiente para o diagnóstico dessa lesão.

    Infecção ou neoplasia do sistema músculo-esquelético devem também ser incluídas no diagnóstico diferencial do jovem atleta que reclama de dor lombar baixa. Radiografia simples, cintilografia óssea e exame de sangue podem ajudar no diagnóstico dessas condições.

     

    PREVENÇÃO

    Atletas e treinadores esportivos que têm risco aumentado de lesão da coluna lombar devem ser educados com técnicas preventivas. O atleta com dor nas costas deve logo procurar avaliação médica, para prevenir a progressão de uma lesão mais grave.

    Lesão por microtrauma repetitivo na coluna lombar tem sido implicada tanto em esportes de contato ou sem contato, incluindo ginástica, balé, patinação artística, hóquei, futebol americano, levantamento de peso, luta greco-romana e remo9, 15-23.

    Ferguson et al. descreveram incidência de 48% de dor nas costas em 25 atacantes de futebol americano24, enquanto Jackson revelou em seu levantamento que 30% de 100 mulheres ginastas competitivas tinham problemas relacionados com a coluna lombar9. Variáveis independentes que contribuem individualmente ou em combinação para a lesão da coluna lombar incluem a má técnica, mau condicionamento e anormalidades anatômicas.

    A má técnica está refletida em aquecimento insuficiente e na supervisão técnica inadequada. Em ginastas, o rápido avanço para as técnicas difíceis sem atenção adequada à força e à flexibilidade pode causar a lesão18,23. Goldberg relatou baixos níveis de força abdominal em ginastas jovens e recomendou exercícios complementares de reforço abdominal16.

    A hiperlordose da coluna lombar é freqüentemente encontrada no jovem atleta com dor lombar baixa ao exame físico. Isso pode ser devido ao desequilíbrio músculo-esquelético que ocorre entre as articulações, incluindo a coluna, durante o segundo estirão de crescimento da adolescência. Além disso, a suscetibilidade dos tecidos em crescimento (incluindo os corpos vertebrais e processos) à lesão é bem conhecida. Ginastas e levantadores de peso devem ser orientados do perigo da posição hiperlordótica, já que isto pode contribuir para o aumento da incidência de lesões de estresse no elemento posterior da coluna lombar23.

     

    PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO

    Retorno progressivo à atividade é o objetivo geral de qualquer programa de reabilitação. Para o atleta com dor lombar baixa, um programa de exercícios de reforço abdominal e pélvico é de grande importância. Existem dois grupos importantes: os exercícios de flexão de Williams são designados para diminuir a lordose lombar e aumentar a flexibilidade25, enquanto os exercícios de extensão de McKenzie podem ajudar a centralizar e diminuir a dor pelo restabelecimento tanto da amplitude de movimento como fortalecimento da lombar baixa, resultando em estabilização das estruturas de apoio da coluna lombar26. Nervos periféricos não mais serão irritados ou comprimidos, fatores que freqüentemente resultam em estimulação e dor secundária. Medicações como analgésicos, antiinflamatórios e relaxantes musculares podem ser usados inicialmente, mas eles desempenham um papel secundário nessa faixa etária.

    O uso precoce de um programa de natação para a lesão de coluna lombar é geralmente bem tolerado e pode ser realizado de maneira funcional e isenta de dor. Isso é útil na sincronização da musculatura lombar e pélvica. Treinamento de força com equipamentos e pesos livres pode ser incluído em estágios mais avançados.

    Na reabilitação de qualquer atleta, o treinamento com atividades de progressão lenta desenvolvidas de modo sem dor é importante se o corpo está para retomar a plena função. No caso de um bailarino, deve-se, em qualquer escola, iniciar com exercícios de barra no chão ou na água, avançando mais tardiamente para o salto.

    O colete de Boston desenvolveu-se nos anos 70 como tratamento para as deformidades da coluna em crianças e adolescentes. Uma vez que um componente antilordótico foi adicionado ao colete, ele foi usado para tratar crianças com hiperlordose patológica7. Os novos e modificados coletes termoplásticos abrem-se anteriormente e são feitos em vários tamanhos e contornos de 0º, 15º e 30º de lordose lombar. O colete é desenhado para aplanar e apoiar a coluna, diminuindo a tensão na coluna lombossacra e aumentando a pressão abdominal27. Verificou-se que o posicionamento antilordótico da coluna no colete se mantinha após o uso; então, levantou-se a hipótese de que o colete coloca a coluna em posição fisiologicamente melhor para funções subseqüentes.

    Estudos clínicos têm confirmado a efetividade do colete de Boston no manejo de várias etiologias de dor lombar baixa. O uso de colete em atletas jovens com espondilólise e graus I a II de espondilolistese tem sido particularmente bem sucedido. Se detectado precocemente, o colete pode promover a cura do defeito do processo articular. Contudo, mulheres parecem ter prognóstico relativamente pior na cura quando comparadas com os homens11. Mesmo que a cura óssea completa não ocorra, o paciente pode ficar assintomático com melhora da amplitude de movimento após a terapia física e imobilização. O colete pode recolocar a coluna, melhorando a pars dolorosa mais vertebral e diminuindo o estresse do elemento posterior.

    O colete é inicialmente usado por 23 das 24 horas nos primeiros seis meses em conjunto com um regime fisioterápico de exercícios antilordóticos e de flexibilidade para a extremidade baixa. Gradualmente, o colete é retirado do paciente nos próximos três a seis meses. Atividades esportivas, como futebol, ginástica e hóquei, podem ser reiniciadas depois de três a quatro semanas do uso de colete, uma vez que o paciente esteja assintomático. Em pacientes com doença de disco, pode-se empregar um colete termoplástico a 15º da lordose para ajudar a cura e restauração da função13.

     

    REFERENCES

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    Lyle J. Micheli; Gillian Allison

    Division of Sports Medicine, Children's Hospital, Boston, MA

    Treino pesado pode aumentar o risco de se desenvolver artrose

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    Paula Radcliffe pode não voltar a correr por causa da artrose


    Depois de um treino puxado é comum o atleta sentir dores e perceber inchaços nas articulações. Porém, se as dores persistirem e se intensificarem fique atento: esse pode ser um sinal de artrose.

    A artrose é uma doença nas articulações caracterizada pela degeneração da cartilagem, que pode causar dor, rigidez e restringir a funcionalidade do local. Para ser descoberta, basta um simples exame de raios X, que mostrará a gravidade da perda de cartilagem entre os ossos.

    Paula Radcliffe- Foi assim que a dona dos três melhores tempos femininos da história em maratonas, Paula Radcliffe, descobriu que teria problemas para treinar. Diagnosticada com a doença, a maratonista afirmou que não sabe se voltará a competir na categoria de elite.

    De acordo com uma declaração da atleta ao jornal britânico "The Telegraph" em novembro de 2012, ela não tinha mais cartilagem entre os ossos dos pés e sentia muita dor. A maratonista, que tinha afirmado que tentaria participar da Maratona de Londres neste ano, corre o risco de só poder acompanhar o percurso da televisão do hotel em que se hospedará.

    Causas da doença- Porém, segundo a mestre e doutora em Medicina pela USP, Dra. Pérola Grinberg Plapler, é muito difícil a doença ser desencadeada em corredores que treinam sem excessos. "O grande problema é quando o atleta força a articulação e exagera nas atividades", informa.

    Além disso, atletas obesos, que forçam demais o seu corpo com o sobrepeso, tendem a ser um grupo de risco. "É um impacto intenso e muito forte em uma única região", explica. A profissional também alerta que o desgaste em corredores tende a aparecer nos joelhos e quadris.

    Apesar da incidência da doença em mulheres ser mais frequente, a doutora também explica que não há relação com o sexo, mas sim com a idade. "A artrose aparece mais frequentemente em mulheres acima dos 60 anos, pois há falta do hormônio estrogênio, que as protege do diagnóstico precoce", revela.

    Prevenção- Não existe nenhum alimento que possa ajudar a prevenir a incidência da artrose. Porém, bons hábitos alimentares podem ajudar no controle de peso e reduzir a possibilidade de se desencadear a doença.

    Procure um fisioterapeuta pra te ajudar na prevenção!

    Reabilitação das Lesões Desportivas

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    Reabilitação é o processo de restaurar o estado de saúde ótimo ou normal de um indivíduo. Como o atleta necessita de um alto condicionamento, a reabilitação desportiva é o processo de retorno do atleta as suas atividades desportivas, proporcionando um condicionamento igual, ou melhor, ao anterior da lesão.

    Para atingir bons resultados, a reabilitação necessita de planejamento e execução sistemática. Tem que levar em conta a força muscular, potência, flexibilidade e resistência (endurance), assim como o equilíbrio, propriocepção, momento apropriado e condicionamento cardiovascular. Existe, ainda, um componente psicológico significante, que é preciso compreender e utilizar.

    Cada programa de reabilitação deve ser individualizado de forma a atender as necessidades especiais de cada atleta, de acordo com o esporte praticado e sua especialidade dentro deste. Entretanto, não existe livro de receitas, cada caso é um caso.

    As lesões sofridas durante a participação atlética são, em geral, produzidas em circunstâncias inerentes ao desporto específico; portanto, o atleta pode ficar exposto a um traumatismo recidivante idêntico, o que torna mais provável uma nova lesão. Por isso a necessidade de uma reabilitação exaustiva e completa.

    O conhecimento das propriedades fisiológicas de cada fase é extremamente importante para o fisioterapeuta realizar um melhor diagnóstico e assim poder direcionar o tratamento a ser executado em todo e qualquer tipo de lesão. Isso serve como base para a melhor compreensão dos processos patológicos e assim indicar e utilizar as melhores ferramentas para o tratamento.

    Em qualquer lesão, ocorrem efeitos fisiológicos específicos em resposta ao traumatismo. Cabe ao terapeuta reduzir a gravidade destes efeitos, otimizar o tempo de cicatrização e devolver o atleta à competição o mais rápido possível sem comprometer seu bem estar.
     

    Princípios

    Alguns princípios têm que ser estabelecidos na reabilitação.

    Princípio de adaptação específica às demandas impostas – Para desenvolver força em grupos musculares específicos (adaptação específica), deve exigir que esse grupo de músculos se contraia repetitivamente contra uma sobrecarga (demanda imposta), assim poderá atingir a reabilitação completa ou total.

    Estabelecimento dos objetivos terapêuticos – Planejamento de metas específicas diárias. Metas de curto alcance progridem até atingir as de longo alcance. Com isso também há um auxílio psicológico
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    Avaliação contínua – Para avaliar a reação do atleta ao esquema terapêutico e o progresso em relação às metas.

    Progressão funcional – Segundo Kegerreis, uma seqüência ordenada de atividades que possibilita a aquisição de habilidades necessárias para o desenvolvimento seguro e eficiente do desempenho atlético.

    Exercício precoce – O exercício é essencial durante a cicatrização das lesões por dois motivos. O exercício estimula a circulação aumentando o fornecimento de oxigênio para o tecido que está cicatrizando. O outro é que o exercício promove tensão no tecido direcionando a reestruturação do colágeno. Os exercícios têm que ser controlados, pois exercícios vigorosos demais rompem o tecido em cicatrização. Existe uma divisão entre a quantidade de exercício que otimiza o reparo do tecido e a que destrói essa reparação.

    Uma vez controlada a resposta aguda à lesão, o atleta pode prosseguir com a amplitude precoce de movimento e exercícios ativos. Os exercícios de fortalecimento deveriam incluir atividades de CCA (cadeia cinética aberta), assim como de CCF (cadeia cinética fechada) com finalidade de incorporar um treinamento funcional e proprioceptivo. A intensidade do exercício deveria prosseguir através de um protocolo ERP consistente. Duração, especificidade, freqüência, ritmo e progressão são outros fatores importantes que deverão ser enfatizados ao se elaborar um programa de reabilitação. É importante restaurar a força, potência e endurance (resistência) musculares e proporcionar a educação neuromuscular e endurance cardiovascular durante as fases do recondicionamento. Um programa de reabilitação bem balanceado tornará possível uma progressão ordenada dos exercícios que incluem os que sejam de cadeia tanto aberta quanto fechada, além de treinar os músculos através de velocidades variáveis de movimento e de padrões variáveis de contração funcional (concêntrica e excêntrica), e de incorporar gestos esportivos específicos do desporto do atleta.

    Velocidade de recondicionamento – Grande parte da perda de desempenho atribuível à lesão é conseqüência de inibição induzida pela dor.

    Eliminação da dor – Todos os exercícios devem ser livres da dor.A dor residual em geral decorre de atividade muito extenuante no dia anterior e mostra que se deve aliviar um pouco o atleta.

    Biofeedback – Existe um delicado equilíbrio entre muito pouco exercício e exercício em demasia durante a reabilitação. Muito pouco exercício resulta em incapacidade permanente enquanto o exercício vigoroso causa mais lesão aos tecidos em cicatrização.

    É importante traçar os exercícios, medir o desempenho e relatar ao atleta o resultado. O feedback específico de desempenho ajuda o atleta a progredir mais rápido.
     

    Conclusão

    Na Fisioterapia desportiva, temos como principal objetivo devolver o atleta o mais rápido possível dentro dos limites fisiológicos pós-lesão.

    A capacidade funcional do atleta tem que ser testada antes de retornar a sua atividade desportiva. O programa de reabilitação deve incluir gestos esportivos progressivos. O desempenho criterioso baseado em mensurações objetivas e em testes de atividade funcional de velocidade plena sem qualquer dor ou derrame indica que o atleta está pronto para voltar a praticar plenamente seu desporto.

    Cadeia cinética aberta versus cadeia cinética fechada na reabilitação avançada do manguito rotador

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    Introdução

    Dentre as lesões do ombro que provocam dor e impotência funcional, a síndrome de impacto do manguito rotador se destaca e foi descrita por Charles Neer pela primeira vez em 1972 (1). Caracteriza-se pelo uso repetitivo dos braços acima da linha do ombro, condição patológica em que ocorre a irritação do tendão supraespinhoso secundária a uma abrasão em sua superfície pelo terço anterior do acrômio (2, 3). Neer também relata a importância da superfície interna do tendão e as potenciais mudanças que podem ocorrer pela fricção repetitiva e irritação deste no estágio três na classificação do processo de impacto (4). A altura do espaço subacromial em ombros saudáveis está entre 9 e 10 milímetros, sendo que medidas radiográficas menores que 6 milímetros são consideradas patológicas para compressão do manguito rotador. A espessura normal do tendão do manguito rotador nesta área está entre cinco e seis milímetros (5).

    O protocolo de cadeia cinética fechada é um modelo biomecânico utilizado para analisar muitas atividades esportivas e gestos biomecânicos, representando o corpo como um sistema coerente de segmentos interdependentes, muitas vezes trabalhando em uma sequência de proximal para distal, para dar uma ação desejada no segmento distal. Isso reforça os padrões de movimento normal e reduz o desafio de aprender novos movimentos durante a reabilitação, numa sequência coerente com a função biomecânica da extremidade superior (6-9). Giordano et al. compartilham da opinião de Greve (1995 a, b) e de outros autores (Neer II, 1995; Morelli & Vulcano, 1993) de que o tratamento a SIO deve ser inicialmente clínico, independentemente da presença de alterações anatômicas envolvidas na gênese da doença (10). O objetivo do estudo foi avaliar a efetividade de um protocolo de reabilitação do ombro em cadeia cinética fechada para síndrome de impacto do manguito rotador.

     

    Materiais e métodos

    Delineamento

    Ensaio clínico randomizado de equivalência realizado com pacientes com diagnóstico de síndrome de impacto de ombro grau I e II, entre os meses de agosto e novembro de 2010.

    Ética

    O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos e Animais da Universidade Luterana do Brasil, sob o registro 2010-213H. Explicou-se a todos os participantes o objetivo da pesquisa, os critérios de inclusão e de exclusão, os procedimentos experimentais e de avaliação. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

    Critérios de elegibilidade

    A população abordada foi composta por pessoas acometidas por síndrome de impacto de manguito rotador em grau I e II inicial na classificação de Neer e com solicitação de tratamento fisioterapêutico. Foram incluídos no estudo pacientes com diagnóstico clínico de síndrome de impacto concedido por médico traumatologista, com a presença de, pelo menos, três testes clínicos positivos para síndrome de impacto e manguito rotador; presença de ressonância magnética apresentando quadro inflamatório, espessamento de manguito rotador e cabo longo do bíceps; ou ecografia apresentando quadro inflamatório, espessamento de manguito rotador e cabo longo do bíceps; não estar realizando previamente algum outro tipo de modalidade fisioterapêutica; e ter assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos do estudo sujeitos com presença de cirurgia ou outro tipo de lesão prévia no ombro afetado, diagnóstico de síndrome de impacto grau III de Neer, indicação cirúrgica concedida pelo médico traumatologista e ter três faltas consecutivas não justificadas ao protocolo experimental.

    Randomização

    Os pacientes foram divididos aleatoriamente em dois grupos:

    Grupo I - recebendo intervenção por meio de exercícios em CCF + medicamento(s) prescrito(s) pelo médico traumatologista + orientações domiciliares + crioterapia domiciliar;

    Grupo II - recebendo intervenção por meio de exercícios em CCA + medicamento(s) prescrito(s) pelo médico traumatologista + orientações domiciliares + crioterapia domiciliar.

    Protocolo de avaliação

    Testes clínicos

    Os testes clínicos, além de terem sido utilizados como critério diagnóstico, serviram como parâmetro para análise da evolução terapêutica de cada grupo. Foram utilizados os testes de Neer, Jobe, Hawkins-Kennedy e Yocum.

    Amplitude de movimento

    A avaliação da amplitude de movimento foi realizada com a utilização de um goniômetro como orientações do manual de goniometria (11), no qual tínhamos um braço fixo e o móvel que acompanhava o sentido do arco de movimento até o máximo de amplitude que o paciente conseguia.

    Qualidade de vida

    A qualidade funcional e o grau de comprometimento foram avaliados por meio dos questionários validados de UCLA, o qual avalia dor, função, mobilidade de flexão ativa, força muscular (teste manual) e satisfação do paciente, e a escala de CONSTANT, que avalia dor, atividades de vida diária (AVDs) (limitações no trabalho, lazer, dormir, função do braço) e média de movimentos (flexão, abdução, rotação externa - RE, rotação interna - RI).

    Atividade eletromiográfica dos músculos do manguito rotador

    Outro instrumento de avaliação utilizado foi a eletromiografia de superfície (EMG). Ela determina o início de ativação muscular e avalia a coordenação ou o desequilíbrio dos diferentes músculos envolvidos (12, 13). Utilizou-se um eletromiógrafo de dois canais modelo EMG Retrainer, marca Chattanooga Group® com eletrodos de superfície autoadesivos e descartáveis. A coleta dos sinais foi iniciada com a tricotomia dos pelos quando necessário, limpeza da pele com algodão embebido em álcool 70%, seguida da colocação dos eletrodos, guiado pela disposição das fibras musculares e prova de função dos músculos analisados. O sinal foi captado em contração isotônica isométrica voluntária máxima e expresso em microvolts (µV) (12). Foram avaliadas a atividade elétrica dos músculos supraespinhoso, infraespinhoso, deltoide anterior, deltoide médio, deltoide posterior e bíceps braquial. A coleta dos dados ocorreu simultaneamente à análise da força muscular.

    Força muscular

    A contração isométrica voluntária máxima (CIVM) foi avaliada simultaneamente à realização da eletromiografia de superfície. Foram observados os movimentos de rotação externa, rotação interna, flexão, abdução e extensão. Foi utilizado um dinamômetro modelo push-pull, marca Chattanooga Group®. O aparelho foi estabilizado pelo avaliador, não permitindo que o paciente executasse o movimento durante o teste de contração.

    Protocolo de intervenção

    Os pacientes receberam o protocolo de exercícios três vezes por semana, divididos em subgrupos de quatro pacientes para dinamizar o atendimento. O protocolo teve duração média de 50 minutos para cada subgrupo e contou com mais 12 minutos de crioterapia ao final do protocolo.

    Intervenção CCA

    - Exercícios pendulares de Codman;

    - Flexão: em decúbito dorsal, elevando o braço até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Rotação interna: em decúbito dorsal, trazer o braço de rotação neutra para interna, repetir o gesto 20 vezes;

    - Rotação externa: em decúbito dorsal, trazer o braço de rotação neutra para externa, repetir o gesto 20 vezes;

    - Abdu-adução: em decúbito dorsal, trazer o braço para junto do corpo, repetir o gesto 20 vezes;

    - Abdu-adução horizontal: em decúbito dorsal, com os braços abertos, bater palma na altura do peito, repetir o gesto 20 vezes;

    - Elevação em polia, sentado, 60 repetições;

    - Flexão: sentado, elevando o braço até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Rotação interna: em ortostase, trazer o braço de rotação neutra para interno ("coçar as costas"), até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Rotação externa: sentado trazer o braço de rotação neutra para externa ("pedir carona"), até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Abdu-adução: sentado, "bater palmas", até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Abdu-adução horizontal: sentado, com os braços abertos, "bater palmas" na altura do peito, repetir o gesto 20 vezes;

    - Crioterapia após exercício durante 12 minutos.

    Intervenção CCF

    - Flexão: de pé, mãos apoiadas na parede, realizando movimento de reverência ("agachamento"), até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Extensão: em pé, de costas para a parede, mãos apoiadas na mesma, afastando as costas da parede, até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Rotação interna: em pé, mão apoiada na parede com ombro em extensão (de costas para a parede), paciente realiza a inclinação em diagonal para trás e para o lado da mão apoiada na parede, até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Rotação externa: de pé, mãos apoiada no marco de uma porta ou pilar, cotovelo e ombro flexionados a 90 graus, realizar uma inclinação do tronco à frente apoiando-se sobre o membro em exercício, até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Abdu-adução: em ortostase, apoiar as mãos nas barras paralelas e agachar, até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Abdu-adução horizontal: de quatro apoios (sobre a bola suíça, para iniciar), realizando inclinações laterais, até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Flexão: de quatro apoios (sobre a bola suíça, para iniciar), realizando movimento de reverência, até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Extensão: decúbito dorsal, apoiado nos cotovelos erguendo as costas do tatame, até o limite da dor, repetir o gesto 20 vezes;

    - Crioterapia após exercícios durante 12 minutos.

    Análise estatística

    Para a análise estatística, utilizou-se o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 17.0. Os dados foram expressos em frequência, média e desvio padrão. Para avaliar a homogeneidade dos grupos, foi utilizado o teste de qui quadrado. Já para a análise dos resultados de intervenção foi utilizado o teste t-Student para as medidas paramétricas entre os grupos de intervenção e a análise de variância (ANOVA) one-way para medidas repetidas, seguido pelo teste post hoc de Bonferroni para comparação das médias pré, parcial e pós-intervenção dentro de cada grupo. Para as medidas não paramétricas, foram utilizados os testes de Kruskal Wallis e Friedman. O nível de significância estabelecido para o teste estatístico é de p < 0,05.

     

    Resultados

    Entre agosto e novembro de 2010, 14 pacientes foram incluídos no estudo. A média de idade total foi de 55,57 ± 11,85 anos, sendo que no grupo CCF a média de idade foi de 54,71 ± 12,84 anos, e de 56,43 ± 11,74 anos para o grupo CCA. No grupo CCF havia sete mulheres e, no grupo CCA, seis eram do sexo feminino e um do masculino. Não se observou diferenças significativas entre ambos os grupos nas suas características (p > 0,05).

    Para avaliar a função foram utilizadas duas escalas funcionais validadas: escala de UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles) e Constant. Houve melhora no escore total da escala UCLA em ambos os grupos após a intervenção. No grupo CCF, o escore inicial era 12,42 ± 1,49 e, ao fim do protocolo, foi de 27 ± 2,3 (p = 0,003). Já no grupo CCA, o escore inicial foi de 18 ± 3,4 e, ao fim da intervenção, foi de 32,66 ± 0,42 (p = 0,02) (Figura 1). Na escala de Constant também se verificou melhora dos escores de ambos os grupos, porém no grupo CCF esta melhora já ocorreu a partir da décima sessão. Os sujeitos do grupo CCF apresentaram, inicialmente, um escore 31,71± 3,68 e, ao final da intervenção, 62,42 ± 4,49 (p = 0,002). Já no grupo CCA, o escore inicialmente foi de 36,83 ± 20,91 e, ao final da intervenção, foi de 74,67 ± 2,65 (p = 0,017) (Figura 2).

     

     

     

     

    A amplitude de movimento (ADM) ativa do ombro lesado, realizada com um goniômetro universal, mostrou um aumento significativo no grupo CCF para os movimentos de flexão (p = 0,011), abdução (p = 0,021), rotação externa (p = 0,000) e rotação interna (p = 0,000). Já no grupo CCA, apenas a abdução apresentou melhora (p = 0,04). Todos os planos de movimentos, no grupo CCF, obtiveram melhora significativa já nas 10 primeiras sessões. A avaliação da ADM passiva mostrou resultados semelhantes à ADM ativa. Apenas o grupo CCF obteve resultados expressivos de melhora na abdução (p = 0,025), rotação externa (p = 0,013) e interna (p = 0,043). Na flexão, não se obteve significância, pois os pacientes já apresentavam na avaliação inicial uma ADM de 127,85º, não gerando significância no aumento da amplitude.

    A força muscular, avaliada por meio da dinamometria, melhorou em todos os planos de movimento no grupo CCF. A força muscular inicial para flexão foi de 2,91 kg e aumentou para 7,75 kg ao fim do protocolo (p = 0,024). A força muscular de abdução aumentou de 3,16 kg para 7,41 kg (p = 0,05) (Figura 3). Na rotação externa, a força muscular passou de 2,25 kg para 8,08 kg ao final do protocolo (p = 0,001) (Figura 4).

     

     

     

     

    Por fim, a força de rotação interna passou de 2,83 kg para 8,33 kg (p = 0.001) (Figura 5). No grupo CCA, apenas a força dos movimentos rotacionais apresentou melhora ao final do protocolo. A rotação externa inicial era de 3,80 kg e progrediu para 7,9 kg ao final do protocolo (p = 0.028) (Figura 4). Já a rotação interna apresentava 5,2 kg e melhorou para 8,7 kg (p = 0.009) (Figura 5).

     

     

    A ativação de unidades motoras, avaliada por meio da eletromiografia de superfície, não mostrou resultados estatísticos significativos. Observou-se, porém, médias de sinais elétricos que acompanharam fidedignamente o ganho de força muscular de ambos os grupos.

    Por meio dos testes clínicos específicos, conseguimos analisar o grau de acometimento e, com uma medida qualitativa, observar a evolução final dos pacientes em relação à primeira avaliação.

    O teste Neer era inicialmente positivo em 11 sujeitos do estudo (todos os sete no grupo CCF e quatro no grupo CCA). Ao final do tratamento, quatro ainda eram positivos no CCF e apenas um no CCA.

    No teste de Hawkins, todos os sete sujeitos do grupo CCF eram positivos, sendo que, ao final da intervenção, todos os casos se tornaram negativos. Já no grupo CCA, três eram positivos e, após a intervenção, um caso ainda era positivo.

    O teste de Yocum mostrava positividade em seis casos positivos no grupo CCA e todos os sete no CCF. Ao final da intervenção, apenas um positivo no CCA e quatro ainda eram positivos no CCF.

    Finalmente, no teste de Jobe, todos os 14 sujeitos do estudo apresentavam teste positivo no início do estudo. Na reavaliação final, cinco em cada grupo tornaram-se negativos.

     

    Discussão

    Vários autores têm pesquisado a reabilitação de pacientes com SIO através de programa de reabilitação através de exercícios em CCF. Os protocolos conservadores deste tipo de pacientes normalmente abordam protocolos que utilizam exercícios em CCA.

    Neste estudo, avaliamos a recuperação funcional através das escala UCLA e Constant. Çitaker et al. (14) avaliaram a funcionalidade de indivíduos com síndrome do impacto, utilizando a UCLA, e encontraram melhoras significantes após 20 sessões de intervenção. Ambos os grupos do estudo apresentaram melhora significativa dos escores funcionais em ambas as escalas. Vários estudos corroboram com os nossos achados. Glasoe et al. (15) investigaram a eficácia de um protocolo de tratamento pra SIO com CCA, por meio da escala UCLA, e constataram melhora siginificativa após a intervenção. Lech et al. (16) analisaram o sucesso de uma abordagem fisioterapêutica conservadora para pacientes com SIO e obtiveram 69,2% de bons e excelentes resultados na escala UCLA. Barbosa, Goes e Fonseca (17) abordaram pacientes com SIO por meio de exercícios em CCA, verificando uma melhora do escore UCLA: de 14,57 na avaliação inicial para 28,0 na avaliação final. Em nosso estudo, os escores iniciais foram de 12,42 (CCF) e 18,00 (CCA), progredindo para 27,00 (CCF) (p = 0,003) e 32,67 (p = 0,022).

    Levando em consideração a escala de Constant, outro estudo avaliou a influência da mobilização articular em pacientes com tendinopatia de bíceps e supraespinhoso e encontrou escores significativos na escala de Constant (17). San Segundo et al. (18) utilizaram a escala de Constant para avaliar a melhora de pacientes com SIO submetidos a um protocolo utilizando a terapêutica do ultrassom e verificaram que o escore inicial era de 49,4 e evoluiu para 61,3 (p = 0,001). Em nosso estudo, os escores iniciais foram de 31,71 (CCF) e 36,83 (CCA), progredindo para 62,43 (CCF) (p = 0,002) e 74,66 (CCA) (p = 0,017).

    Tanto a ADM ativa quanto a passiva obtiveram ganho expressivo no grupo tratado com exercícios em CCF, enquanto que no grupo CCA apenas a abdução melhorou. Uma revisão Cochrane concluiu que a terapia por exercícios por meio de CCA para o manguito rotador é benéfica, tanto a curto como a longo prazo, no que diz respeito a uma maior valorização da função e à progressão de abdução (19). Outro estudo refere que o efeito tem sido visto até 2,5 anos após a conclusão do tratamento. No entanto, há evidências limitadas para sugerir qual é o regime de exercício ótimo, ou a frequência ou a intensidade do programa para aprimorar a terapêutica (20).

    Neste estudo, verificamos uma melhora expressiva da força muscular em todos os planos de movimento para o grupo CCF, enquanto o grupo CCA apresentou apenas melhora da força nos movimentos de rotação externa e interna. Glasoe et al. (15) avaliaram o ganho de força por meio de dinamometria isocinética pré e pós-intervenção, e constataram um ganho de 93% na força do membro contralateral ao final do estudo. Araújo et al. (21) avaliaram a atividade eletromiográfica dos músculos do ombro e cintura escapular durante um programa de exercícios em CCF em 20 sujeitos, detectando um excelente índice de confiabilidade intragrupo com essa técnica de exame. Em nosso estudo, apesar de não termos observado um resultado significativo nas médias da atividade eletromiográfica, notamos que o comportamento da atividade elétrica de cada grupo muscular avaliado acompanhou os resultados apresentados na avaliação da contração isométrica voluntária máxima (CIVM).

     

    Conclusão

    Ambos os protocolos de intervenção apresentaram resultados satisfatórios na reabilitação da SIO. Verificou-se que o grupo de intevenção tratado com um programa de exercícios em CCF apresentou resultados mais expressivos quanto ao ganho de mobilidade articular, funcionalidade, força e ativação muscular do manguito rotador, em comparação ao programa de exercícios em CCA. Acreditamos que o tamanho pequeno da amostra e a falta de um acompanhamento destes pacientes por um período maior tenha sido um fator limitante do estudo. Sugerimos a realização de novos estudos com amostragens maiores para a confirmação de tais resultados.

     

    Referências

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    Recebido: 03/04/2011
    Received: 04/03/2011
    Aprovado: 02/08/2011
    Approved: 08/02/2011
    Conflitos de interesse: Os autores declaram não haver conflitos de interesse entre as partes.

     

     

    Lista de abreviações

    SIO: síndrome de impacto do ombro;

    CCA: cadeia cinética aberta;

    CCF: cadeia cinética fechada;

    ADM: amplitude de movimento;

    UCLA: Universidade da Califórnia, Los Angeles;

    µV: microvolts;

    RE: rotação externa;

    RI: rotação interna;

    AVDs: atividades de vida diária;

    CIVM: contração isométrica voluntária máxima.

    Autores:

    Rudiel Luciano Boeck I; Marcelo Baptista Döhnert II; Tiago Sebastiá Pavão III

    I Acadêmico de Graduação do curso de Fisioterapia da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Torres, RS - Brasil, e-mail: rudiel3b@hotmail.com
    II Professor do curso de Graduação em Fisioterapia da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Torres, RS - Brasil, e-mail: mdohnert@ig.com.br
    III Professor do curso de Graduação em Fisioterapia da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Torres, RS - Brasil, e-mail: tiagospavao@hotmail.com

    Como aumentar os músculos

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    Musculação aumente ou defina sua massa muscular

    As respostas aos exercícios físicos entre homens e mulheres são diferentes, principalmente por questões hormonais. Enquanto a testosterona permite aos homens uma formação muscular mais acentuada, o estrógeno dá ao corpo das mulheres um arredondamento da camada de gordura.

    Apesar disto, muitas mulheres vêm se dedicando à prática da musculação, com o objetivo de esculpir o corpo, conseguindo uma maior definição muscular. Na verdade, o conceito de beleza mudou muito e ter um corpo definido é um indicativo de saúde e vitalidade.

    Homens e mulheres (normalmente) têm objetivos distintos quando começam a fazer musculação. A maioria dos homens quer aumentar a massa muscular e definir abdômen, braços, costas e conseguir pernas com maior volume. Já a maior parte das mulheres se assusta com a idéia de aumentar os músculos, procurando apenas consertar o que está flácido ou manter o que está bom.

    Veja abaixo alguns benefícios:

    • Melhora a postura.
    • Previne as dores na coluna.
    • Melhora a autoconfiança.
    • Aumenta a força para as atividades cotidianas.
    • Aumenta a proteção das articulações e dos ossos.
    • Ajuda no processo de queima de gordura, modificando o metabolismo basal (reserva de energia), acelerando-o.
    • Evita várias doenças, entre elas a Osteoporose, a Artrose e a Diabetes.
    • Torna o coração mais saudável, principalmente para esforços intensos.
    • A musculação rejuvenesce e mantém você jovem, diminuindo a perda de massa muscular, além do ganho de força.
    • Melhora o desempenho esportivo.

    Embora muitas atividades físicas colaborem para o aumento da massa muscular, o treinamento resistido (exercícios com peso, onde há uma resistência, como na musculação) é o estímulo mais eficiente para essa finalidade.

    Tanto o aumento de massa muscular, quanto à diminuição da gordura corporal, varia de pessoa para pessoa, pois cada organismo responde de uma forma à atividade física e a dietas alimentares. Uns conseguem resultados mais rápidos. Outros demoram mais tempo, levando em conta a atividade, freqüência e intensidade da atividade física, dieta, genética, problemas hormonais etc. Insista e tenha muita disciplina que os resultados aparecerão.

    Para que haja um aumento da massa muscular, o processo mais significativo é a hipertrofia (crescimento de uma célula ou órgão devido ao aumento do tamanho dos componentes da célula). Após o treino de musculação, há uma sobrecarga tensional nos músculos, o faz com que ele se contraia contra a resistência oferecida, alterando a permeabilidade da membrana celular aos íons de cálcio que migram para dentro da fibra muscular.

    Quando fazemos exercícios, ocorre a destruição das miofibrilas causada pelo aumento da concentração de cálcio ativa proteases miofibrilares, filamentos protéicos que compõem a maior parte da estrutura muscular. Mas, durante o descanso (muito importante para o aumento da massa muscular e para evitar a fadiga muscular) as miofibrilas são refeitas por síntese protéica, numa proporção maior do que a destruição das mesmas, ocorrendo o aumento do volume muscular.

    A síntese de proteínas após o exercício é estimulada pelos hormônios anabólicos do nosso organismo, que são:

  • G.H.(hormônio do crescimento): formado por aminoácidos e estimulados pelos exercícios intensos, pelo sono e pela hipoglicemia.
  • Testosterona (hormônio sexual masculino): sintetizado a partir do colesterol e estimulado pelo treino pesado.
  • Insulina (hormônio que atua na absorção de glicose pelas células): formado por aminoácidos e estimulados pela ingestão de carboidratos.
  • Um treinamento correto, bem orientado e o descanso adequado aliado a uma dieta balanceada darão excelentes resultados. Se os resultados conseguidos não forem os esperados, dificilmente poderá ser melhor com suplementos e anabolizantes.

    Treino sugerido para ganho de massa muscular:

    • Avaliação física (disponível nas melhores academias).
    • Treinos de musculação, bem orientados, de acordo com a sua necessidade.
    • Obedeça o tempo de descanso.
    • Duração dos exercícios de, no máximo, 1 hora.
    • O sono noturno deve ser suficiente para recuperar as energias.
    • A dieta deve ser balanceada de acordo com a orientação da nutricionista, pois a alimentação faz toda a diferença na hora de conseguir resultados com um trabalho muscular.
    • Não esqueça dos alongamentos antes e depois dos treinos.
    • Leve a sério a musculação, pois ela, sem dúvida, pode trazer muitos benefícios e, se você quiser, realmente aumentar a massa muscular.
    • Tenha disciplina, siga as dicas acima e supere os seus próprios limites.

    Por:
    Valéria Alvin Igayara de Souza
    CREF 7075/ GSP - Especialista em treinamento.


    Fibromialgia: descrição da síndrome em atletas e suas implicações

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    A fibromialgia, síndrome de origem desconhecida, se caracteriza por quadro de dor muscular difusa, constante, agravada pelo repouso e pelo início do movimento, rigidez e fadiga, à qual se associam pontos localizados de dor e alterações funcionais, como síndrome do colo irritável, cefaléia tensional, dor torácica atípica e outras1.

    Não existe correlação com substrato anatômico ou alteração bioquímica característicos, porém é demonstrada alteração eletroencefalográfica com intrusão de ondas a durante as fases 3 e 4 do sono não REM2. Alteração na secreção de serotonina e de substância P3 também parece estar envolvida na patogênese, embora estes achados ainda não sejam conclusivos. Distúrbio psicológico subjacente é achado freqüentemente observado na prática clínica, existindo vários trabalhos na literatura que sugerem esta associação4,5. Mais especificamente ansiedade e depressão6, são referidas como importantes fatores causais em fibromialgia, dando suporte à observação clínica de que o estado emocional é importante no desenvolvimento da síndrome.

    É estimado que nos Estados Unidos cerca de seis milhões de pessoas sejam portadoras de fibromialgia e que em torno de 20% dos pacientes vistos em avaliações reumatológicas de rotina tenham fibromialgia7.

    Anteriormente conhecida como reumatismo não articular ou reumatismo psicogênico8, somente a partir de 1975, com base nos estudos de Moldofsky9,10, onde se demonstrou o aparecimento em grande número de ondas alfa (que normalmente aparecem nos períodos de vigília) nas fases 3 e 4 do sono não REM, é que foi possível definir uma anormalidade característica dos pacientes portadores de fibromialgia, sendo que em 1990 o Colégio Americano de Reumatologia (ACR) definiu critérios para seu diagnóstico11 e em 1992 a Organização Mundial de Saúde reconheceu oficialmente como entidade nosológica distinta12. Pacientes portadores de fibromialgia que apresentam estas alterações eletroencefalográficas caracteristicamente relatam alterações do sono, com interrupções freqüentes e acordam cansados ou com dor, referindo sono não restaurador.

    Os critérios propostos pela ACR, dor difusa durando cerca de três meses e dor à palpação de 11 em 18 pontos-gatilho, mostraram uma sensibilidade de 88% e uma especificidade de 81% para o diagnóstico de fibromialgia11.

    Na prática clínica é comum observarmos o estabelecimento de diagnósticos errôneos em que se confunde fibromialgia com diversas condições inflamatórias ou não e articulares ou extra-articulares, tais como artrose, artrite reumatóide, polimialgia reumática e outros8, sendo freqüente que o paciente faça uma longa peregrinação por consultórios médicos antes que se estabeleça o diagnóstico correto.

    O tratamento da fibromialgia ainda é fundamentalmente medicamentoso com o uso de antidepressivos, antiinflamatórios não hormonais e miorrelaxantes1,8. No entanto, médicos e pacientes, em grande número de casos, se frustram com a recorrência dos sintomas pouco tempo após a suspensão da terapia medicamentosa. Desde meados da década de 80, medidas de terapia física, tais como exercícios físicos, alongamento e relaxamento, vêm sendo propostas como métodos auxiliares no tratamento. Em nossa experiência, estes métodos, mesmo quando usados isoladamente sem o emprego concomitante de medicação, apresentam resultados excelentes.

    Na assistência que prestamos a atletas no departamento médico do COTP (Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa da Prefeitura do Município de São Paulo), é comum a queixa de lesões musculotendíneas de repetição. Normalmente tais lesões são creditadas a erros de postura ou de movimento do atleta, gerando sobrecargas que acarretam lesões. No entanto, o exame destes atletas, em muitas ocasiões, além do ponto de lesão localizado, apresentava quadro de contratura generalizado ao qual se associavam pontos localizados de dor correspondendo aos pontos-gatilho descritos em fibromialgia.

    Tal achado nos surpreendeu, na medida em que é inerente à atividade destes indivíduos a prática de exercícios e de alongamento. Desta maneira procedemos a um estudo prospectivo para a pesquisa de fibromialgia em um grupo em treinamento nas modalidades atletismo e ginástica olímpica, visto que na literatura não há descrição específica da síndrome em atletas.

     

    SUJEITOS E MÉTODOS

    Foram estudadas 20 atletas do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa da Prefeitura do Município de São Paulo, das modalidades ginástica olímpica (nove indivíduos) e atletismo (11 indivíduos), com idades variando entre nove e 22 anos. Estes atletas foram escolhidos de maneira aleatória, não existindo queixa específica de dor. Através do exame físico foi avaliada a ocorrência dos pontos dolorosos que sugerem a presença de fibromialgia, feita segundo os critérios do Colégio Americano de Reumatologia (ACR)11 e baseada na positividade de 11 entre 18 pontos-gatilho estudados. Estes pontos-gatilho são pontos predeterminados, cuja pressão com uma força aproximada de 4kg/cm2 provoca dor. Outros aspectos foram abordados por questionário sobre a presença de dor muscular e aspectos do sono e do despertar.

    A avaliação psicológica do controle da ansiedade foi realizada através da conjunção de diversos procedimentos amplamente utilizados na pesquisa psicológica, que passamos a descrever. A ficha de entrevista inicial tinha por objetivo colher informações sobre a história esportiva e pessoal do atleta. Posteriormente os atletas eram submetidos a vários procedimentos de análise psicológica. O teste HTP é uma técnica projetiva que busca adquirir dados significativos a respeito da personalidade do indivíduo e sua interação com o ambiente. O questionário IDATE partes I e II é um método de auto-avaliação que tem por objetivo avaliar as variáveis "ansiedade" e "pressão" no cotidiano esportivo e pessoal do atleta. As provas de particularidades tônicas, incluindo as de extensibilidade (membros superiores e inferiores), relaxamento, sincinesia e paratonia do Manual de Exame Psicomotor Germaine Rossel e Manual de Revisão Psicomotora Guilmain, foram usadas com o intuito de avaliar o tônus muscular do atleta e perceber sua relação com os dados obtidos (personalidade e em especial grau de ansiedade). Finalmente os atletas foram submetidos ao Questionário de Desempenho Competitivo, elaborado pelo setor de Psicologia do COTP, com a finalidade de colher informações acerca do desempenho esportivo, dificuldades e expectativas pessoais, assim como do relacionamento grupal. Através destes vários testes, visamos levantar dados sobre a personalidade do atleta, grau de ansiedade, tônus muscular, capacidade de lidar com situações de pressão, desempenho esportivo e expectativas, procurando correlacionar com os achados do exame clínico.

     

    RESULTADOS

    Dos 20 atletas estudados, sete apresentavam, em resposta à pesquisa dos pontos-gatilho, dor em número de pontos acima de 11 em 18, caracterizando quadro de fibromialgia. Destes, seis relatavam alteração do sono, interrupções de magnitude que pudessem ser lembradas ao despertar, e todos apresentavam ao despertar alterações tais como dor ou cansaço.

    Dois atletas tinham um número limítrofe de pontos-gatilho, nove, não sendo considerados como portadores de fibromialgia, pois não preenchiam o critério dos 11 pontos. Embora relatassem sono normal, acordavam doloridos.

    Finalmente, entre os 11 que não apresentavam fibromialgia, quatro tinham entre quatro e oito pontos dolorosos e sete, um número de pontos dolorosos bastante baixo, de zero a dois. Todos apresentavam sono normal e despertar sem dor ou cansaço.

    A avaliação psicológica mostrava claramente uma distinção entre os dois grupos. O grupo portador de fibromialgia apresentou dificuldades no manejo e domínio da ansiedade, o que se associou a problema de concentração. Este quadro também foi observado em atletas que apresentavam quadro limítrofe. Por outro lado, os atletas que não apresentavam a síndrome comportavam-se de modo que evidenciavam adequado controle da ansiedade.

     

    DISCUSSÃO

    Em um grupo de 20 atletas estudados, constatamos a presença de fibromialgia em sete indivíduos, uma incidência de 35%, portanto acima do descrito para a população geral.

    Em trabalhos anteriores já havíamos descrito alterações clínicas e psicológicas em grupos similares de atletas13,14.

    Revendo a literatura, encontramos vários artigos em que o exercício físico e o alongamento são propostos como terapias da fibromialgia15-17; no entanto, não encontramos qualquer artigo que discuta a presença de fibromialgia em atletas.

    Nosso achado deve ser considerado e discutido, não só do ponto de vista acadêmico da descrição de uma síndrome em uma população que se julgava protegida desta, mas principalmente do ponto de vista prático, tendo em vista suas possíveis repercussões, em especial a rigidez muscular, que pode funcionar como fator desencadeante para o aparecimento de lesões musculares de repetição mesmo sem trauma aparente. Portanto, a pesquisa desta patologia em atletas em exames de rotina pode auxiliar na prevenção das lesões. Outro ponto importante ainda relacionado à rigidez diz respeito a uma possível ação como fator limitante no desempenho dos atletas. Pudemos observar tal evento, de maneira não controlada, em alguns atletas nos quais o tratamento do quadro de fibromialgia resultou em melhora do rendimento físico.

    Deste modo, atletas que apresentam lesões musculotendíneas de repetição podem desenvolvê-las em função de um quadro de fibromialgia, subestimado em seu diagnóstico em exames de pré-participação18 e que pode ser encontrado nas diversas modalidades esportivas. Dado que o exercício e o alongamento são inerentes à prática esportiva, não esperávamos encontrar fibromialgia nesta população; no entanto, estudo prospectivo para avaliar a ocorrência da síndrome em atletas mostrou alta incidência neste grupo, confirmando nossa observação clínica.

    Entre as várias teorias propostas para explicar a patogênese da fibromialgia, a única comprovada e aceita se refere à alteração de sono descrita por Moldofski. Outras alterações como diminuições da secreção de serotonina e aumento de secreção de substância P foram propostas, sendo atualmente objeto de estudo por vários grupos de pesquisa. Dos outros mecanismos patogenéticos propostos, alterações neuro-hormonais, disfunções autonômicas e alterações de fluxo sanguíneo no sistema nervoso central provavelmente têm lugar no desencadeamento da síndrome, mesmo porque todas estas teorias não são mutuamente exclusivas. Um fator fundamental em nossa experiência clínica é o fator emocional, sendo a depressão e outras desordens afetivas citadas por vários autores como importante fator causal ou desencadeante4-6.

    Nosso estudo revelou achado bastante interessante, pois o grupo portador de fibromialgia apresentava quadro de ansiedade de maneira uniforme, sendo fator comum a estes atletas e aos atletas que apresentavam quadro limítrofe a dificuldade em lidar com a ansiedade, enquanto os não portadores de fibromialgia mostravam tanto um grau menor de ansiedade, como uma melhor capacidade de lidar com esta alteração.

    Desta maneira, nossa observação de que o grupo fibromialgia apresenta distúrbio emocional específico, marcadamente ansiedade e depressão, está de acordo com os relatos da literatura.

    Um último ponto de interesse a abordar é a possível relação do achado de fibromialgia em atletas com outras alterações descritas na prática do exercício. Conforme citamos anteriormente, não existe relação entre fibromialgia e alteração anatomopatológica característica em músculo ou tecido nervoso, caracterizando desta maneira uma síndrome somática funcional.

    Entre as síndromes funcionais, além de fibromialgia podemos citar colo irritável, dispepsia, cefaléia tensional, síndrome pré-menstrual, disfunção temporomandibular, sensibilidade química múltipla e a síndrome da fadiga crônica. Muitas destas têm manifestações que se superpõem, sendo freqüente que o portador de uma destas síndromes tenha um ou vários sintomas de outras. Wessely et al.19 discutem estas síndromes, sugerindo que na verdade estamos frente a um quadro único, cujas múltiplas manifestações são vistas e rotuladas por diferentes especialistas, de acordo com o órgão ou sistema afetado, desta maneira "criando" doenças distintas.

    Dentro deste espírito crítico, Lehman20 observa em relação à síndrome do overtraining: "a questão do paralelismo à síndrome da fadiga crônica, na qual infecção pelo vírus de Epstein-Barr é sugerida, é uma especulação interessante, desde que infecções banais possam provocar síndrome do overtraining e treinamento extenuante possa resultar em tendência à infecção". Este comentário fica bastante claro quando examinamos os critérios usados para o diagnóstico da síndrome da fadiga crônica, que enumeramos a seguir, e os comparamos aos achados da síndrome do overtraining. São critérios diagnósticos da fadiga crônica: concentração prejudicada, dor de garganta, gânglios cervicais dolorosos, dor muscular, cefaléia, sono não restaurador, e mal-estar pós-exercício21. Um profissional ligado à área do exercício reconhece com facilidade que estes são praticamente os mesmos sintomas observados na síndrome do supertreinamento22.

    Da mesma maneira, sono não restaurador, dor muscular difusa, dificuldade de concentração, dor após o exercício, cefaléia, são sintomas freqüentemente encontrados na fibromialgia. Tais alterações comprometem significativamente a performance, podendo mesmo em alguns casos levar alguns atletas a utilizar drogas ilícitas, na tentativa de se sobrepor a tais sintomas, o que em algum momento causa comprometimento de sua saúde23.

    Estas semelhanças entre diferentes síndromes estudadas no âmbito de especialidades distintas, e atendidas pelo infectologista, reumatologista e médico do exercício, nos levam, na medida em que transitamos clinicamente pela reumatologia, imunologia e medicina do exercício, associado à discussão com colegas de maior vivência no âmbito da medicina do esporte, à suposição de que podemos estar frente à mesma síndrome, vista por diferentes especialistas, em diferentes populações, de modo que a detecção de um quadro de fibromialgia poderia ser um marcador importante para o médico alertar o atleta para a possibilidade de entrar em overtraining.

    Frente a todas estas possibilidades, nos parece de suma importância o reconhecimento de quadros de fibromialgia em atletas, principalmente quando nos deparamos com lesões musculotendíneas de repetição ou frente a um baixo rendimento de um atleta.

     

    AGRADECIMENTOS

    Agradecemos pelas facilidades que nos foram oferecidas para a realização deste trabalho à Prof. Valéria Sato, técnica da GO, à Profa. Rosa Maria Aparecida de Souza, técnica do Atletismo, ao Eng. Ronald Diegues Fonseca, administrador do COTP, e ao Sr. Gilmar dos Santos Neves, diretor do COTP.

     

    REFERÊNCIAS

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    Mauro W. VaisbergI; Cláudio A. BaptistaII; Cibel O. GattiIII; Ivan da Cruz PiçarroIV; Luiz Fernando P.B. Costa RosaV

    IMédico da Disciplina de Imunologia, Unifesp-EPM, São Paulo
    IIMédico, COTP/PMSP, São Paulo
    IIIPsicóloga, COTP/PMSP, São Paulo
    IVProfessor Adjunto do Departamento de Fisiologia, Unifesp-EPM, São Paulo
    VProfessor Assistente do Departamento de Histologia, USP, São Paulo


    Análise do perfil, funções e habilidades do fisioterapeuta com atuação na área esportiva nas modalidades de futebol e voleibol no Brasil

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    Introdução

    A prática esportiva incita diversos tipos de lesões do sistema musculo-esquelético1-6. A formação dos profissionais envolvidos na abordagem dessas lesões bem como as competências e atribuições de cada profissional na área esportiva são extremamente variáveis de país para país7,8. Em pesquisa realizada em quatro divisões do futebol inglês, constatou-se que metade dos clubes tinha fisioterapeutas sem qualificação específica na área esportiva9. A maioria dos que não tinham qualificação específica era representada por técnicos em fisioterapia, dos quais grande parte eram ex-atletas. Segundo os autores, esses fisioterapeutas estavam em posição desfavorável para resistir às ameaças à sua autonomia profissional, particularmente aquelas que surgem da tentativa dos gerentes e dos médicos de influenciar na sua decisão clínica9.

    Apesar de o fisioterapeuta esportivo ter formação e autonomia limitadas, Waddington, Roderick e Naik9 relataram que, no futebol inglês, o médico somente comparecia ao clube uma vez por semana, cabendo ao fisioterapeuta o atendimento primário de lesões esportivas, assim como de outras doenças9. Nesses casos, o fisioterapeuta prescrevia medicamentos, tratava os atletas baseado na cultura do futebol e aplicava injeções, quando necessário. Em sua maior parte, os tratamentos eram realizados sem nenhuma base clínica/científica e, muitas vezes, com pouca autonomia nas decisões. Esse comportamento contraditório da atuação do fisioterapeuta no futebol inglês reforça a necessidade de um melhor entendimento sobre as ações e responsabilidades de cada membro da equipe de saúde dentro do esporte.

    Atualmente, ainda existem controvérsias quanto ao papel e à formação necessária de cada profissional de saúde na área esportiva. Entretanto, a equipe de saúde, incluindo o fisioterapeuta esportivo, parece atuar em pelo menos quatro grandes domínios: prevenção, atendimento emergencial, reabilitação funcional e retorno à atividade2,4,5,10-14. Em que pese essa definição internacional sobre as áreas de atuação do fisioterapeuta esportivo, a atuação desse profissional, no Brasil, parece ser heterogênea, sem uma definição clara do seu papel dentro da equipe que atende ao atleta15,16.

    A ausência de estudos brasileiros, aliada à indefinição do papel do fisioterapeuta na equipe, pode contribuir para que haja diferenças entre as funções dos fisioterapeutas esportivos em seus diversos locais de atuação. Diferenças nos métodos de atuação e formação profissional dos fisioterapeutas esportivos podem ameaçar a identidade desse profissional e atrasar o desenvolvimento dessa área17. Nesse sentido, o entendimento sobre a inserção e atuação do fisioterapeuta esportivo brasileiro na equipe interdisciplinar pode contribuir para uma melhor organização de serviços e, consequentemente, melhor atendimento ao atleta. Portanto, o objetivo deste trabalho foi investigar o perfil do fisioterapeuta esportivo brasileiro no que tange à sua formação, grau de especialização, atuação e autonomia dentro da equipe interdisciplinar.

     

    Materiais e métodos

    Esta pesquisa possui um delineamento transversal e foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil, com o parecer de nº. ETIC 294/07.

    Seleção dos participantes do estudo

    Os potenciais voluntários deste estudo foram inicialmente contatados pessoalmente durante o I Congresso Internacional e III Congresso Brasileiro de Fisioterapia Esportiva (Ouro Preto, MG, Brasil, novembro de 2007) ou posteriormente por meio de e-mails direcionados aos clubes e aos membros da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva. Os critérios de inclusão foram: a) ser fisioterapeuta esportivo de clube/seleção brasileira, de ambos os sexos, com qualquer tipo de vínculo com o clube/seleção; b) ter nacionalidade e formação brasileira; c) atuar ou ter atuado, nos dois últimos anos, no futebol profissional masculino (1ª e 2ª divisões do Campeonato Brasileiro) e no voleibol masculino e feminino (Liga Nacional de Voleibol), bem como em seleções estaduais e nacionais de ambos os esportes.

    Os participantes que cumpriam os critérios de inclusão e que aceitaram participar da pesquisa preencheram o questionário de maneira presencial (durante o Congresso) ou, no segundo caso, receberam outro e-mail, contendo um questionário sobre as habilidades e funções que exerciam no seu clube. A pesquisa utilizou um questionário estruturado para levantamento de: a) dados sociodemográficos, b) dados relativos ao ambiente de trabalho, c) dados sobre a prática clínica e os seus domínios. Na sequência, os voluntários receberam uma carta contendo outra selada em seu interior, para retorno do termo de consentimento livre e esclarecido, devidamente assinado, para aqueles que não o fizeram durante o congresso. Após responderem ao questionário, os participantes devolveram-no, também por e-mail.

    Caracterização da amostra

    Foram selecionados e analisados questionários referentes a 27 fisioterapeutas de clubes de futebol e a 22 fisioterapeutas que atuavam em clubes e seleções de voleibol, perfazendo um total de 49 fisioterapeutas. Cinco voluntários indicaram atuar tanto em clubes quanto em seleções de voleibol. Dessa forma, a dinâmica de trabalho relatada por esses voluntários, incluindo a relação com outros profissionais, foi considerada separadamente no sentido de caracterizar mais fidedignamente a atuação desses profissionais em seu local de trabalho. A maioria (44) era do sexo masculino e apenas cinco eram do sexo feminino, estando elas alocadas em seleções e/ou clubes de voleibol. Considerando todos os questionários analisados, dez respondentes foram de seleção de voleibol; 18, de clubes de voleibol e 27, de clubes de futebol, representando 91%, 50% e 68% da população de fisioterapeutas brasileiros distribuídos nas respectivas categorias. As margens de erro corrigidas para populações finitas foram de 9,8%, 16,8% e 10,9%, respectivamente, para as proporções em estudo. Considerando a amostra total, a margem de erro foi de 8,1% (considerando o nível de 95% de confiança). Os dados relativos à entrevista foram agrupados e analisados por meio do pacote estatístico SPSS 15.0. Neste estudo, foram realizadas análises descritivas da distribuição das respostas em cada dimensão avaliada pelo questionário. O teste de McNemar foi aplicado para comparar as proporções em variáveis medidas em toda a amostra, e o teste Z foi empregado para comparar diferenças nas proporções dos grupos de futebol e voleibol.

     

    Resultados

    Características do profissional e da profissão

    A maioria dos entrevistados (89,1%) era do sexo masculino e 10,9% do sexo feminino, sendo que a idade variou entre 24 e 46 anos, com média de 32,2 anos. Os que trabalhavam em times de futebol corresponderam a 49,1% e, no voleibol, a 50,1% dos entrevistados. Em times de futebol, não houve profissionais do sexo feminino, uma vez que as poucas fisioterapeutas da amostra trabalhavam em times de voleibol (21,4%). As áreas de especialização mais citadas nas entrevistas estão descritas na Tabela 1.

    A contratação do fisioterapeuta no clube/seleção, em sua grande maioria (78,2%), deu-se por meio de indicação, sendo que apenas um entrevistado ingressou por processo seletivo. Dados referentes a qual profissional indicava o fisioterapeuta, ao vínculo empregatício com o clube, à carga horária de trabalho, remuneração e aos rendimentos extras estão descritos na Tabela 1. A frequência das funções exercidas pelo fisioterapeuta no clube, como "presença em treinamentos e jogos", "viajar com a equipe" e "aplicação e/ou distribuição dos medicamentos prescritos" está descrita na Figura 1.

     

     

    Atuação do profissional

    A Tabela 1 indica a distribuição da participação dos fisioterapeutas nos domínios de atuação da fisioterapia esportiva citados na literatura. Pode-se verificar que todos os entrevistados atuavam no "retorno ao esporte após a lesão". Já o registro de lesões nos clubes era realizado por 89,1% dos fisioterapeutas entrevistados. Os 10,9% restantes afirmaram que o registro era feito por outro profissional, sendo que o fisioterapeuta sempre tinha acesso a ele. A Tabela 2 indica a frequência de aplicação de programas de prevenção de lesão, de avaliações para verificar a efetividade desses programas implantados, os profissionais que mais atuam com o fisioterapeuta na aplicação do programa preventivo e o uso de recursos na conduta preventiva. Destaca-se que 44% não responderam ao item tipo de avaliação para a efetividade do programa de prevenção, e 5% não souberam definir o tipo de avaliação.

    A Figura 2 demonstra o(s) profissional(is) responsável(is) pelo atendimento emergencial em treinos e jogos. Na comparação entre as situações "treinos" e "jogos", a única diferença significativa foi para a diminuição de "fisioterapeuta" e crescimento de "médico e massagista" (p=0,063).

     

     

    A técnica e/ou procedimento mais citado como utilizado no atendimento emergencial foi, em primeiro lugar, a "bandagem", com 70,9%, seguida de "cuidados com feridas, calos e bolhas", com 63,6% e de "enfaixamentos" com 60%. A aquisição do conhecimento em "bandagem" foi aprendida principalmente em cursos extracurriculares e práticas clínicas (34,5% e 36,4%); os "enfaixamentos", na graduação e em cursos (27,3% e 32,7%); as "terapias manuais", em cursos (38,2%); o "ABC do trauma", na graduação e em cursos (34,5% e 25,5%); a "ressuscitação cardiopulmonar" (RCP), em cursos (40%) e "cuidados com feridas, calos e bolhas", na prática clínica (49,1%). As técnicas e/ou procedimentos citados mais aplicados foram recursos físicos, citados por 98% dos pesquisados, técnicas manuais (62%), cinesioterapia e técnicas cinesioterapêuticas (58%) e técnicas de cadeias musculares e RPG (53%).

    A prática de atividade física durante a reabilitação de forma a manter o condicionamento cardiorrespiratório era realizada por 89,1% dos clubes. A Tabela 2 indica a distribuição dos profissionais responsáveis por esse trabalho, sendo que 20% da amostra foi representada por outras interações entre profissionais.

    Ao serem questionados sobre a quem cabia a decisão final sobre o retorno ao esporte após a reabilitação, em 74,5% dos casos, ela ficava a cargo do médico em conjunto com o fisioterapeuta; em 14,5%, somente a cargo do médico e em 10,9%, somente do fisioterapeuta. Os critérios citados que norteavam tal decisão eram "subjetivos da equipe de saúde" com 33%, seguido por "capacidades físicas, técnicas e funcionais ótimas" (22%), "critérios fisiopatológicos" (20%) e "necessidades do clube" (20%).

    Testes ou avaliações para embasar a decisão de retorno ao esporte eram "sempre" realizados por 67,3% dos profissionais pesquisados, sendo que 27,3% afirmaram que isso ocorria "quase sempre" e 5,5% responderam "às vezes". Dos profissionais responsáveis pelo retorno gradativo do atleta às atividades funcionais de campo, os mais citados foram os fisioterapeutas em conjunto com o educador físico, com 70,9% das citações, em seguida, o fisioterapeuta isolado, com 27,3%. O restante (1,8%) foi representado por outras interações.

    Análise da interdisciplinaridade no esporte

    Os profissionais da saúde mais presentes nas equipes interdisciplinares e contratados diretamente pelos clubes são o preparador físico, com 94,5% das citações, o médico com 89,1% e o nutricionista com 69,1%. Entre os que são contratados para atuar de forma esporádica, o mais citado foi o cirurgião dentista, com 50,9%. Os profissionais que foram indicados como os menos presentes na equipe foram os podólogos, com 61,8%, e os profissionais de enfermagem, com 50,9%. A pesquisa destacou o trabalho do psicólogo e do nutricionista durante o processo de reabilitação de lesões. É interessante notar que 41,8% afirmaram que o atleta lesado nunca tinha acompanhamento psicológico, enquanto 22,2% não eram atendidos por nutricionista durante a reabilitação.

    Analisando a frequência da interação do fisioterapeuta com outros profissionais, observou-se que mais de 70% dos fisioterapeutas afirmaram interagir com médicos e 69,1%, com técnicos, de forma constante. A interação com a diretoria segue um padrão um pouco diferente, sendo que somente 43,6% disseram que ela ocorre de forma constante. A autonomia do fisioterapeuta na equipe esportiva sofre restrições tanto pela diretoria quanto pelo técnico e pelo médico, sendo este último o responsável por níveis maiores de restrição (Tabela 3).

     

     

    Análise por modalidade

    Diferenças estatisticamente significativas foram encontradas em relação à forma de contratação, prestação de serviço e premiações diversas e estão apresentadas na Tabela 1. Houve uma maior frequência de profissionais que recebiam mais de dez salários mínimos em clubes de futebol (p<0,001) e de sete a dez salários mínimos nos clubes de voleibol (p<0,001). Houve uma maior atuação dos profissionais do voleibol no atendimento emergencial ao atleta (p<0,001), além de participação no desenvolvimento de programas de prevenção de lesões ou no suporte para o desenvolvimento deles (p<0,001).

     

    Discussão

    Para caracterização do perfil do fisioterapeuta com atuação na área esportiva, foram escolhidas as modalidades de futebol e voleibol por serem aquelas mais praticadas e com maiores investimentos18,19. Portanto, essas modalidades podem ser consideradas como referência nos esportes coletivos.

    No presente estudo, detectou-se pequena presença de mulheres como fisioterapeuta do esporte, em comparação com os fisioterapeutas homens. A presença feminina foi exclusivamente no voleibol, revelando um possível preconceito contra a participação de mulheres fisioterapeutas no futebol profissional. A idade mais frequente dos fisioterapeutas esportivos foi de 28 anos, e esse fato reflete, possivelmente, o tempo necessário para, após o término da graduação, o fisioterapeuta realizar os cursos de especialização e aperfeiçoamento necessários para complementar sua formação na área de esportes20. No presente estudo, 78,2% dos entrevistados realizaram, pelo menos, uma especialização. Os dados relativos à formação do fisioterapeuta brasileiro no esporte divergem dos achados de Waddington, Roderick e Naik9, em que metade dos clubes ingleses tinha fisioterapeutas sem especialização. Entretanto, deve-se ressaltar que apenas metade dos fisioterapeutas analisados possuem especialização na área esportiva. Esse fato indica que, apesar de atuar no esporte, alguns profissionais não podem ser considerados como especialistas na área esportiva.

    No Brasil, a indicação de fisioterapeutas para os clubes/seleções representa a principal forma de contratação, sendo a fonte de indicação diluída entre colegas fisioterapeutas, técnicos e médicos. Entretanto, este último profissional é quem mais restringe a autonomia dos fisioterapeutas entrevistados. Reportando novamente ao futebol inglês9, nota-se que a contratação de fisioterapeutas, na maioria das vezes, se dá por meio de entrevistas aplicadas por um gerente, sem consulta aos demais membros. Apesar de esse tipo de seleção poder ser mais frequentemente baseada em mérito, tal fato, se associado a uma baixa qualificação profissional, pode representar uma ameaça à autonomia dos fisioterapeutas, uma vez que os referidos gerentes de futebol, além dos médicos do clube, podem influenciar a decisão clínica desse profissional9.

    A relação trabalhista mais frequente (54,5%) é a carteira assinada, sendo as demais representadas pelo trabalho autônomo como pessoa física e como pessoa jurídica. Esses dados divergem da pesquisa do DIEESE, realizada nas regiões metropolitanas do Brasil, em maio/2008, em que 44,5% trabalhavam com carteira assinada e 7,5% como autônomos21. A prestação de serviço como pessoa jurídica é uma característica comum no esporte profissional. O presente estudo demonstra que o fisioterapeuta esportivo vem sendo afetado por essa nova forma de relação trabalhista.

    Os resultados demonstram que a maioria dos fisioterapeutas esportivos (83,7%) apresentavam salários acima do que é preconizado pela FENAFITO (Federação Nacional dos Sindicatos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional) que, no momento da conclusão das entrevistas, era referente a 3,6 salários mínimos (R$ 1.468,00)22,23. Considerando o piso salarial sugerido e desejado pela mesma entidade (7,8 salários mínimos ou R$3.214,22), mesmo assim, têm-se 58,2% dos fisioterapeutas dentro ou acima dessa faixa salarial22. A carga horária dos fisioterapeutas entrevistados pode ser considerada elevada, já que 80% trabalhavam mais de 8 horas ou em regime de dedicação exclusiva para o clube. Esse fato está em desacordo com a Lei nº. 8856 de 1º de março de 1994, que define 30 horas semanais como carga horária máxima da profissão23. Isso faz supor que parte dos rendimentos extras percebidos pelos profissionais venha a compensar essa distorção. Além disso, o recebimento de "bichos" e "premiações" demonstra o quanto o fisioterapeuta é reconhecido pela direção dos clubes.

    A atuação do fisioterapeuta é observada em todos os domínios de sua prática, sugerindo a sua participação em todas as funções possíveis de serem ocupadas. Destaca-se, inclusive, a atuação do fisioterapeuta na área de atendimento emergencial, em que culturalmente existe a figura do massagista no esporte brasileiro. Nessa área de atuação, nota-se a grande participação do fisioterapeuta, individualmente ou em ação com o médico, principalmente em treinamentos. Entretanto, existe ainda um grande potencial de mercado a ser conquistado pelo fisioterapeuta esportivo no atendimento emergencial em jogos. Para tanto, faz-se necessário a contratação de mais profissionais fisioterapeutas pelos clubes para atendimento a essa demanda, bem como uma formação mais sólida, aliada a uma política de reconhecimento, pelas federações e confederações, do fisioterapeuta como profissional que pode atuar de maneira científica e segura juntamente com o profissional médico.

    Outra área importante de atuação do fisioterapeuta no esporte é a prevenção de lesões24-28. O processo de prevenção requer o registro das lesões e avaliação sistemática do efeito das medidas preventivas adotadas e a participação da equipe interdisciplinar no processo11,24. No presente estudo, observou-se que a grande maioria dos clubes possui registro de lesões, bem como incentivam programas de prevenção. Entretanto, a forma de avaliação do programa preventivo parece não ser sistematizada e está ausente em 44% dos clubes. Esse fato indica a necessidade de maior cientificismo no processo de prevenção de lesões. Os clubes que apoiam programas de prevenção também são aqueles que contam com maior presença dos profissionais médicos, psicólogos e nutricionistas, além de um número maior de outros profissionais integrando a equipe, o que reforça o caráter interdisciplinar da prevenção9,18,25,26.

    Diferenças significativas foram detectadas nas comparações entre fisioterapeutas de voleibol e de futebol. A maioria das diferenças entre os profissionais e seus ambientes de trabalho decorre, possivelmente, da cultura e da organização de cada modalidade23. Por exemplo, devido à ligação do voleibol com empresas, nesse esporte, o fisioterapeuta é mais frequentemente contratado como prestador de serviço do que como funcionário com carteira assinada. Além disso, os fisioterapeutas que atuam no futebol são melhor remunerados e ainda recebem mais premiações. Esse fato reflete o maior poder econômico do futebol brasileiro em comparação com o voleibol. Por outro lado, o profissional que atua no voleibol possui maior participação no atendimento emergencial do atleta e maior atuação nos programas de prevenção. Isso pode ser explicado pelo número menor de outros profissionais que atuam no voleibol, se comparado com o futebol. Parece que a ausência de outros profissionais dilui a responsabilidade pela elaboração e execução dos programas de prevenção no futebol, concentrando mais essa tarefa na mão do fisioterapeuta no voleibol.

    Na presente pesquisa, nessas áreas de convergência com outros profissionais, o fisioterapeuta esportivo demonstrou-se atuante. Os dados revelam uma boa participação do fisioterapeuta na manutenção de performance de atletas lesados (30,9% com o preparador físico e 21,8% sozinho), muito boa participação na decisão do retorno do atleta às atividades após a reabilitação (74,5% com o médico e 10,9% sozinho) e no veto ou liberação do atleta ao esporte (63,6% sempre participa) e excelente participação na reabilitação funcional (70,9% com o preparador físico e 27,3% sozinho). Isto possivelmente reflete o respeito dado ao papel do fisioterapeuta nos processos de reabilitação e retorno a competição dentro do esporte brasileiro.

    Autonomia profissional pode ser definida como a capacidade de autogoverno que pode ser utilizada ou não, ou como sendo a liberdade de julgamento e de tomada de decisão frente às necessidades29,30. Os estudos acerca deste tema na profissão de fisioterapeuta têm sido mais frequentemente realizados a respeito da relação fisioterapeuta/médico, em que se observa uma indefinição das atribuições e competências dessas profissões, gerando conflitos internos e externos20. No presente estudo, 70% dos entrevistados relataram que tinham interação com os médicos em seus clubes. Entretanto, a restrição por parte desse profissional sobre a atuação do fisioterapeuta é maior se comparada com a de outros profissionais da equipe (diretores e treinadores). A autonomia profissional se desenha a partir das definições estabelecidas do que é prerrogativa e do que é instrumental à profissão28-30. O fisioterapeuta esportivo deve procurar uma delimitação concreta do que é próprio da fisioterapia, ou seja, daquilo que o caracteriza como profissional, e se estabelecer como membro integrante e distinto da equipe de saúde esportiva. Os recursos mais utilizados (e.g. eletroterapia 98% e técnicas manuais 62%), as habilidades que são exercidas pelo fisioterapeuta esportivo (e.g. prescrição de órteses e de palmilha 61,8%) e as funções exercidas no clube (e.g. prevenção e reabilitação funcional) ficaram nítidas nesta pesquisa. Dessa forma, as possíveis áreas de atuação do fisioterapeuta no esporte são amplas e podem produzir conflitos com diversos profissionais.

    O processo de avaliação é também um grande definidor do papel do fisioterapeuta10,29. Infelizmente, somente 16% aplicam testes e avaliações para determinar os resultados da prevenção, enquanto 44% não responderam a essa questão. Além disso, na liberação do atleta após reabilitação de lesões, o caráter subjetivo da avaliação também sobrepuja os testes e avaliações aplicadas pelo profissional fisioterapeuta. A prescrição de equipamentos com intuito de prevenir lesões tem sido citada na literatura como sendo um procedimento muitas vezes necessário2,4,5,11,31,32. Portanto, órteses e palmilhas foram os procedimentos de prevenção mais indicados pelos fisioterapeutas entrevistados. Por outro lado, a indefinição, na literatura, sobre os resultados e benefícios da utilização de banheira com gelo ou banheira com água quente após jogos e/ou treinos gerou resultados conflitantes entre os entrevistados. A ausência de testes padronizados para avaliar os resultados das intervenções assim como a falta de consenso nas aplicações de procedimentos de intervenção revelam a necessidade de um melhor embasamento científico para atuação desse profissional.

    Os resultados deste estudo se restringem somente à caracterização do perfil de fisioterapeutas que trabalham no futebol e voleibol profissional. Dessa forma, o perfil do fisioterapeuta esportivo em clubes amadores ou em outros esportes pode ser diferente do da realidade apresentada. Assim, novos estudos que envolvam fisioterapeutas atuantes em esportes individuais e em outros ambientes de trabalho, como academias e clubes sociais, devem ser incentivados.

     

    Agradecimentos

    Aos fisioterapeutas esportivos, quase sempre anônimos na sua atuação, mas atores principais nesta pesquisa.

     

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     AUTORES:

    Anderson A. SilvaI; Natália F. N. BittencourtII; Luciana M. MendonçaII; Marcella G. TiradoI; Rosana F. SampaioI; Sérgio T. FonsecaI

    IDepartamento de Fisioterapia, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil
    IILaboratório de Prevenção e Reabilitação de Lesões Esportivas, Centro de Excelência Esportiva, UFMG


    Lesões desportivas na natação

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    INTRODUÇÃO

    A exposição constante a modalidades esportivas diversas em quaisquer níveis de performance, por si, constitui-se situação de risco para ocorrência de lesões(1). Estudos abordam o tema Lesões Desportivas (LD)(2-4); contudo, nem sempre há consenso sobre métodos de registro de informações ou, ainda, sobre aspectos conceituais relacionados ao assunto e, assim, maior atenção sobre a questão deve ser considerada.

    Dentre os esportes acometidos por LD está a natação. Tal modalidade é popular em diversos países, sendo indicada para manutenção da saúde, tanto do sistema cardiorespiratório quanto do musculoesquelético(5). Contudo, a exposição à sua prática tem mostrado alguns riscos, sobretudo para integridade do sistema musculoesquelético(6).

    Os fatores causais para lesões têm sido caracterizados no âmbito biomecânico; contudo, existem limitações importantes para obtenção de visão epidemiológica mais evidente sobre o tema em questão(7). Inicialmente, deve-se atentar para a dificuldade de acesso às informações sobre os atletas e suas lesões conforme descreve Pastre(8). Conseguir informações desta natureza não constitui tarefa fácil, o que fica evidenciado pela escassez de estudos disponíveis na literatura científica.

    Outro fator importante é a escassez de informações referentes à associação entre lesões e especificidade dentro da modalidade em um universo amplo. O que se observa é a busca pela relação entre um gesto e uma lesão específica(6,9,10). Dados sobre a gravidade de lesão também são expostos(11), mas sem consenso, principalmente metodológico que se refira ao conceito. Ainda em relação ao método, identifica-se ampla variedade entre formas de análise de dados que varia desde análise descritiva até abordagens quantitativas mais complexas(6,12-14).

    Levando em conta o exposto, este estudo justifica-se pela possibilidade de reunir informações de atletas de natação, praticantes dos variados estilos (borboleta, costa, peito, crawl) e provas (50, 100, 200, 400, 800 e 1.500 metros), e também provenientes de clubes e treinos diferentes. Destaca-se que o conhecimento da causa, mecanismo de lesão, fatores de risco, entre outros aspectos, pode auxiliar os profissionais da saúde no processo de prevenção, diagnóstico e tratamento desses agravos, o que contribui de forma importante para as ciências da saúde e do esporte.

    Assim, constitui-se como objetivo deste estudo analisar a ocorrência de lesões em nadadores, associando-a a fatores de risco específicos da modalidade e do atleta, a partir de Inquérito de Morbidade Referida.

     

    MÉTODOS

    Delineamento observacional e população do estudo

    O estudo caracteriza-se como observacional e analítico. Foram analisados dados de 215 nadadores, sendo 80 do sexo feminino e 135 do masculino, selecionados aleatoriamente, os quais eram participantes dos principais campeonatos promovidos pela Federação Aquática Paulista (FAP). Destes atletas, 50 eram velocistas e 38 fundistas do estilo de crawl, 44 do estilo de borboleta, 40 do estilo de costas e 43 peitistas.

    Como critério de exclusão, os atletas não poderiam ter menos de 18 anos, não assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, terem menos de dois anos de prática do esporte em questão, e serem lesionados em outros momentos que não relacionados aos treinamentos e/ou competições de natação.

    Após o consentimento dos dirigentes da FAP para realização da pesquisa, foram abordados os técnicos dos respectivos atletas com o intuito de aprovação. Todos os atletas foram esclarecidos sobre a pesquisa e autorizaram sua participação no estudo, mediante leitura e compreensão do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto referente ao estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FCT/Unesp-Presidente Prudente.

    A coleta foi realizada durante as competições e, por se tratarem de eventos importantes para os participantes, a abordagem aos mesmos foi realizada em momentos distantes do período de preparação, como aquecimentos ou depois da sua prova, sem interferência no processo de recuperação ou concentração para realização de seu evento. Tal condição é sugerida por Pastre et al.(4).

    Técnicas e procedimentos

    Os dados foram obtidos por meio de Inquérito de Morbidade Referida, utilizando como ferramenta para coleta um questionário construído a partir do modelo de Pastre et al.(4) e adaptado para atender condições especificas do esporte(8).

    Para garantir a fidedignidade dos dados coletados foi realizado um piloto com 20 atletas. As principais mudanças ocorreram nos fatores relacionados ao tipo (muscular, osteoarticular e tendinopatias), e mecanismo (volume, intensidade, impacto direto ou impulsivo e atividades complementares) das lesões, adaptados à realidade do ambiente atlético dos nadadores. Foram avaliados o tipo, local anatômico e mecanismos da(s) lesão(ões) e optou-se por solicitar informações retroativas sobre a última temporada dos treinos e competições(4).

    Descrição do instrumento de coleta

    O questionário utilizado foi elaborado por meio de modelo fechado e contendo dados relativos aos atletas (sexo, idade, peso, estatura, IMC, tempo de prática esportiva em anos, horas e quilometragem de treinamento por semana, dominância lateral e prova em que é especialista) e dados referentes às lesões (tipo de lesão, local anatômico e mecanismo causador).

    Para efeito de estudo, considerou-se LD qualquer dor ou afecção musculoesquelética resultante de treinamentos e competições e que foi suficiente para causar alterações no treinamento normal, seja na forma, duração, intensidade ou frequência, conforme já utilizado em outras pesquisas(4,8).

    No sentido de facilitar a análise e apresentação dos resultados, as variáveis foram subdivididas em categorias a partir de agrupamentos para representar blocos mais expressivos de resultados sem, no entanto, modificar a essência de sua origem ou as conclusões do estudo.

    Em relação à variável especialidade foram considerados atletas velocistas os especialistas nas provas que compreendem 50, 100 e 200 metros, e os fundistas, especialistas em provas de 400, 800 e 1.500 metros.

    A variável tipo de lesão foi organizada em três grupos: lesão muscular, tendinopatias e lesões osteorticulares. Foi considerada lesão muscular qualquer agravo nesta estrutura, como distensão, contratura, mialgia ou miosite. As tendinopatias continham agravos como tendinite, tendinose, lesão tendínea ou outros danos específicos deste tecido. Para as lesões osteoarticulares foram agrupadas as lesões que acometiam estruturas ósseas e articulares como entorse, luxação, fraturas, sinovite e lesões condrais(15,16).

    Para determinação do local anatômico da lesão foi disponibilizada aos atletas uma figura ilustrativa do corpo humano no sentido de facilitar a identificação. Foram consideradas as regiões cervicais, torácicas e lombares, ombro, braço, cotovelo, punho e mão, pelve, coxa, virilha, joelho, perna, tornozelo e pé.

    No inquérito, o mecanismo de lesão é caracterizado pelo tipo de atividade atlética em que os sinais e sintomas apareceram ou se acentuaram. Dessa forma, o mecanismo da lesão foi dividido nas principais condições causadoras entre os nadadores, sendo "elevado volume" (caracteriza-se por treinos para ganho de resistência e gesto esportivo excessivamente repetitivo), "elevada intensidade" (atividade de elevada velocidade e gesto esportivo excessivamente rápido e explosivo), "impacto direto ou impulsivo" (gestos específicos de saída, virada e chegada), "atividades complementares" (atividades não aquáticas, mas que estão presentes no plano de treino e ajudam no desempenho dos nadadores, como a musculação, alongamento, treinos de coordenação, de saltos e corda elástica).

    Análise estatística

    Para análise dos dados, inicialmente foi verificado se existia relação entre dominância lateral e sexo quanto à presença e ausência de lesão. Para esta análise foi utilizado o odds ratio e intervalo de confiança de 95%. Como os resultados não apresentaram diferenças significantes, as análises foram feitas sem distinção de dominância lateral e sexo.

    Para comparação das variáveis entre os atletas com presença ou ausência de lesão, inicialmente foi determinada a normalidade dos dados por meio do teste de Kolmorov e Smirnov. Quando a distribuição normal foi aceita, o teste t de Student para amostras independentes foi aplicado (peso e altura) e nas situações em que a distribuição normal não foi aceita, foi aplicado o teste de Mann Whitney.

    O estudo da associação entre tipo de lesão, mecanismo e local anatômico em cada especialidade, utilizou-se o teste de Goodman para contrastes entre e dentro de populações multinomiais.

    Foram utilizadas letras minúsculas e maiúsculas para indicar as diferenças significativas entre os níveis do(s) fator(es) em comparação. A sistemática de leitura deve ser a seguinte: i) letras minúsculas (comparação entre letras dentro de uma coluna): usadas para comparação dos níveis do fator colocado nas linhas. ii) letras maiúsculas (comparação entre letras dentro de uma linha): usadas para comparação dos níveis do fator colocado nas colunas.

    A interpretação das letras (maiúsculas ou minúsculas) deve ser feita considerando que letras iguais mostram resultados que não são estatisticamente diferentes. Todas os testes foram feitos com nível de significância de 5%.

     

    RESULTADOS

    Dos atletas entrevistados, 177 referiram-se como destros, 100 com presença de lesão e 77 ausência, e, dos 38 canhotos, 21 referiram lesão e 17 não (odds ratio: 0,94, IC: 0,46-1,92). Em relação ao sexo, dos 80 atletas do sexo feminino, 51 referiram lesão e 29 não, e, dos 135 do sexo masculino, 70 referiram lesão e 65 não (odds ratio: 1,63, IC: 0,93-2,88).

    As variáveis antropométricas e de treinamento segundo a presença de lesão, independentem da especialidade do participante.

    Na tabela 1 observam-se valores maiores para todas as variáveis dos lesionados em relação aos não lesionados. As diferenças estatísticas são notadas para idade e anos de prática esportiva.

     

     

    De acordo com a tabela 2, a mediana de idade de 21 anos para os fundistas lesionados foi significantemente maior em comparação aos atletas não lesionados. Nas outras modalidades observou-se distribuição casual.

     

     

    Para todas as modalidades, com exceção para o nado de peito, os valores mostram-se maiores para os que sofreram algum tipo de agravo. Houve diferença estatisticamente significante para os fundistas (mediana) e para os especialistas do estilo costas (média) em relação aos anos de prática esportiva (tabela 3).

     

     

    Para os velocistas do estilo crawl e peito houve maiores taxas de lesões musculares e tendíneas em relação às osteoarticulares. Para as outras especialidades não foi notada diferença. A comparação entre as especialidades em cada tipo de lesão, também mostrou distribuição casual (tabela 4).

     

     

    Os resultados do tipo do mecanismo de lesão em cada modalidade atlética estão apresentados na tabela 5. Para os velocistas de crawl, o volume de treino (59,32%) e as atividades complementares (32,20%) foram significantemente mais frequentes que a intensidade de esforço (0%). Além disso, o volume de trabalho, também apresentou diferença significante para o impacto direto ou impulsivo (8,47%). Para os nadadores fundistas e os velocistas especialistas nos estilos borboleta e peito, o volume de trabalho foi o mecanismo mais referido e apresentou diferença estatisticamente significante em comparação aos outros mecanismos. Para os nadadores de costas a maioria das lesões ocorreram pelo volume de treino (57,14%) que apresenta diferença significante em relação à intensidade (1,85%) e impacto (1,85%).

     

     

    Quando comparados os mecanismos de lesão em relação às especialidades, identificou-se que para o volume de trabalho houve distribuição relativa significantemente maior no estilo peito (90,74%) em relação aos nadadores de costas (57,14%) e velocistas de crawl (59,32%) e os fundistas de crawl (87,88%) em relação aos velocistas (59,32%). Para o mecanismo atividades complementares houve diferença significante entre os velocistas (32,20%) em relação aos nadadores de peito (5,56%) e casual entre os outros estilos.

    A tabela 6 descreve a distribuição dos locais anatômicos referidos em ocorrências de lesões, segundo a especialidade. Destaca-se o ombro como o local com maior ocorrência de lesão, com exceção ao estilo peito, que apresentou a virilha como local mais acometido.

     

     

    DISCUSSÃO

    Dos 215 atletas avaliados, 121 relataram ao menos uma lesão durante a temporada corrente.Tais achados concordam com estudos de Rodeo(9) e Chen et al.(17) que verificaram elevada frequência de lesões na natação. Contudo, a exposição constante associada ao elevado volume de trabalho, como demonstrado neste trabalho, parece ser fator determinante para tal ocorrência. Segundo Rodeo(9) e Pink e Tibone(18), atletas competitivos podem nadar cerca de 10 a 14km por dia, durante seis a sete vezes por semana, isso equivale aproximadamente a 2.500 braçadas em um único dia, o que contribui para alto risco de lesões.

    Observa-se que a relação entre sexo e domínio lateral com ocorrência de lesão teve distribuição casual, sem diferença estatística significante, o que concorda com os achados no estudo Weldon e Richardson(19), tanto para questões de gênero como da dominância lateral, e discorda de outros estudos de mesma natureza que constataram maior frequência de lesão entre as mulheres quando comparadas aos homens(20,21).

    As características antropométricas e de treinamento foram investigadas e nota-se relação entre os anos de prática esportiva e a idade dos participantes com as ocorrências de lesão. Para os especialistas do estilo costas e fundistas, houve relação entre maior exposição e ocorrência de lesões analisando a variável anos de prática. Por outro lado, a faixa etária dos participantes não permite hipóteses relacionadas ao envelhecimento, como as levantadas por Faulkner et al.(22) e Maharam et al.(23) que incluem perda de flexibilidade, força e potência muscular, devido à faixa etária da amostra desta pesquisa.

    Em relação ao mecanismo de lesão, no presente estudo, o volume dos treinos é o principal causador de lesões referidas pelos atletas. Weldon e Richardson(19) e Banks et al.(12) relatam que o volume do treinamento é responsável pela maioria das lesões em nadadores, sendo a principal causa de ausências em competições e treinamentos. No estudo de González-Boto et al.(24) observou-se que, quando os atletas atingiam o volume máximo nos treinos, ocorriam aumentos significativos nas escalas de estresse relacionados às lesões e exaustão emocional, com diminuição dos valores relacionados ao sucesso, recuperação física e autoeficiência na escala de recuperação.

    Explorações relacionadas ao tipo de lesão também foram feitas. Nota-se, para os participantes desta pesquisa, que as tendinopatias são as mais citadas, independente da especialidade, o que corrobora os achados de alguns autores(19,25). As razões abordadas para ocorrência de tal lesão são relacionadas comumente ao excesso de repetições associados ao desequilíbrio de força muscular(12,13,19,25). As lesões musculares também foram referidas de maneira significante e, segundo alguns autores(13,25), estão associadas com o mesmo fator causal das tendinopatias, reiterando repetição e desequilíbrio muscular.

    Em relação aos locais anatômicos, observa-se que o ombro foi o mais referido entre todas as especialidades, exceto para o nado de peito. Tais achados também são relatos por Chalmers e Morrison(7), que descrevem os nadadores de crawl, borboleta e costas como sendo os mais acometidos por lesões neste seguimento.

    Biomecanicamente, Yanai et al.(26) relataram que a estrutura articular do ombro dos nadadores sofrem com o uso repetitivo, e a sobrecarga a estas estruturas ocorre principalmente durante a entrada da mão na água, em que o ângulo de elevação do ombro atinge o seu máximo e também durante a fase de recuperação da braçada, na qual há o excesso de rotação interna do mesmo.

    Ainda concordando com os achados deste estudo, Capaci et al.(27) verificaram que, dos nadadores competitivos do sexo masculino que relataram lesão musculoesquelética, a maioria referiu dor no ombro seguida da coluna lombar e a articulação do joelho, respectivamente. Os autores(27) ainda descrevem que a dor no ombro ocorreu com frequência nos nadadores de crawl e a dor do joelho foi observada somente nos peitistas.

    Em relação aos resultados do estilo peito, nota-se que, comparado a outras especialidades, as lesões na virilha são mais frequentes, o que corrobora com o estudo de Grote et al.(28), que justificam tal fato, de forma genérica, devido aos movimentos repetitivos e a dinâmica de pernada deste estilo.

    Segundo Rodeo(9), na especialidade de peito os esforços repetitivos nos músculos adutores da coxa durante o nado fazem com que ocorra estresse durante a finalização do trabalho de pernas, quando a adução forçada da coxa ocorre com os joelhos em valgo e os tornozelos e pés rodados externamente.

    Os resultados permitem inserir elementos à literatura que são escassos, sobretudo em relação à análise de associação. Apesar de boa parte das conclusões ser observada na prática de campo, alguns dos fatores são discretos e passam despercebidos aos envolvidos diretos dentro da modalidade. Sugere-se que, a partir da vivência de campo nas coletas deste estudo, cada equipe possua dinâmica de registros sendo mais específica à realidade do treinamento, ou seja, descrevendo com riqueza de detalhes as lesões e seu processo de instalação, para que, desta forma, possam ser estabelecidos momentos de alerta relacionados ao treinamento e inseridos programas de prevenção específicos à cada situação.

     

    CONCLUSÃO

    A partir dos achados deste estudo, conclui-se elevada frequência de lesões em nadadores, sem distinção significante para dominância lateral e sexo. O maior valor médio para anos de prática esportiva é o fator de risco para instalação de lesões em fundistas e especialistas no estilo costas; e, em relação à idade, os maiores valores destacam-se entre os fundistas. O elevado volume de trabalho é o mecanismo mais referido por todas as especialidades. O tipo de lesão mais frequente é a tendinopatia, e o local anatômico mais referido pelos participantes é o ombro, exceto para os peitistas que referiram a virilha como o local anatômico mais acometido.

    Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

     

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    Autores:

    Patrícia Raquel Carvalho de AguiarII; Fábio do Nascimento BastosII; Jayme Netto JúniorI; Luiz Carlos Marques VanderleiI,II; Carlos Marcelo PastreI,II

    IDepartamento de Fisioterapia. Faculdade de Ciências e Tecnologia/Unesp. Presidente Prudente, SP – Brasil
    IIPrograma de Mestrado em Fisioterapia. Faculdade de Ciências e Tecnologia/Unesp. Presidente Prudente, SP – Brasil


    Reabilitação acelerada: será que vale a pena?

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    A imagem que se tem da fisioterapia aplicada à atividade física e ao esporte, é pura e simplesmente de reabilitar lesões sofridas em práticas relacionadas a atividade física ou esportiva; e reabilitar o mais rápido possível, ou seja, quanto mais rápido o atleta voltar à atividade, melhor o profissional que o reabilitou. Porém, esta relação da curta duração do tratamento com a qualidade do profissional não é verdadeira, e muito menos se resume apenas ao tratamento de uma lesão. Atualmente, podemos afirmar que em relação ao esporte de alto nível, quanto menos se trabalha durante uma temporada, e quando digo trabalho, digo em relação à reabilitação de lesões, melhor o trabalho desenvolvido na pré-temporada e, aí sim, melhor é o profissional. Desde 1972, a American Orthopaedic Society for Sports Medicine, dentre outras instituições, vem desenvolvendo pesquisas e grandes avanços foram alcançados. Os cirurgiões têm melhorado suas intervenções cirúrgicas e os fisioterapeutas seus programas de reabilitação, possibilitando a esses profissionais especializados o tratamento de lesões graves, que em outra circunstância, terminaria com a carreira de um atleta. Num cada vez mais curto espaço de tempo, estes profissionais estão promovendo o retorno do atleta à atividade física ou esportiva. O rótulo reabilitação acelerada tem sido muito explorado pela mídia. Os programas de reabilitação realizados em atletas famosos, objetivando o retorno relâmpago, já foram transmitidos em cadeia nacional, principalmente, aqueles que envolvem investimentos astronômicos de patrocinadores. Além disso, ainda temos alguns dirigentes que dependem de resultado para se autopromover, temos atletas que dependem de estar em atividade para receber e, ainda temos, o que é pior, o profissional da área da saúde que vê na lesão do atleta uma oportunidade de aparecer. Com toda essa informação, o atleta recreacional que tem na atividade física sua válvula de escape, seu ponto de equilíbrio, já chega no nosso consultório perguntando "Quando volto pra minha pelada?", "Já posso correr?" ou então "Quando é minha alta doutor?" e temos que explicar que para um bom resultado terapêutico nós não temos que lutar contra o tempo, mas sim usá-lo como aliado em todo o processo. Toda lesão precisa ser avaliada com muito cuidado, principalmente por que ela não está ali isolada, há um indivíduo, um jogador de futebol ou um executivo, um corredor ou uma bailarina que estão sofrendo por não estarem praticando sua atividade de trabalho ou de lazer, ou então, por não estarem conseguindo desenvolvê-la plenamente. E então? Vamos lá trabalhar em três períodos, todo dia, pra acelerar o processo, ou trabalhar conservadoramente? Como já disse todo o paciente deve ser avaliado cuidadosamente. O fisioterapeuta que trabalha no esporte tem que sempre estar pensando em preservar e estimular a saúde do atleta, e deverá sempre perceber as interferências naturais ou patológicas da atividade física ou do desporto na gênese de uma disfunção ou de uma lesão, ou seja, para um mesmo problema, ou para um mesmo sintoma, podem ser prescritos tratamentos diferentes com o mesmo objetivo final. A meu ver, o grande problema do boom da reabilitação acelerada é a utilização indiscriminada de protocolos de tratamento de fulano ou beltrano, que antevêem os resultados no tempo e determinam a evolução do tratamento baseado nisso. Isto pode ser ao mesmo tempo um fator de aceleração indevida no processo terapêutico para uns, e um fator de atraso neste mesmo processo para outros. Vejam bem, quem sou eu para questionar o mérito de fulano ou beltrano, muito pelo contrário, é extremamente interessante que se conheça os protocolos, para que possamos alterá-los de forma a adequar o trabalho de reabilitação a cada paciente, a cada atividade e a cada esporte e, aí sim, acelerar o processo de reabilitação. Só que o processo não para por aí, o atleta que volta as atividades precocemente, precisa de contínua atenção para a perpetuação dos resultados terapêuticos, o que poderíamos chamar de reabilitação continuada.

    Tênis: a relação entre o tipo de piso e a incidência de lesões

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    Bem, antes de mais nada gostaria de agradecer ao Dr. Rogério Teixeira da Silva (www.medsports.com.br), médico ortopedista, coordenador do comitê médico da Confederação Brasileira de Tênis, pela colaboração com idéias e informações fundamentais para o meu aprofundamento teórico no tênis. Um outro agradecimento a ser feito é ao idealizador do Fitvirtual, Marcio Atalla, que me incentivou a iniciar a prática deste esporte apaixonante. A primeira coisa que se pensa quando associamos tênis e fisioterapia é o lugar comum “tennis elbow”, também conhecido com epicondilite lateral do cotovelo, porém resolvi falar disso apenas na próxima coluna quando abordaremos o assunto raquetes e técnica, que têm interferência fundamental nesta patologia. Quem quiser se adiantar poderá ler na coluna medicina desportiva uma visão médica sobre o assunto. Existem vários tipos de piso para prática do tênis e eles são divididos classicamente em três: Grama, Quadra dura (Existem muitos tipos de piso que se enquadram na classificação quadra dura, tipo o Lisonda, o cimento e o carpete, entre outros) e Saibro; Essa diferença entre os tipos de piso determina ao tênis uma particularidade em relação a quase todos os outros esportes, um jogador profissional ou não, está sempre alternando de piso, vide os quatro torneios do “Grand Slam”, eles são jogados em tipos diferentes de piso, Austrália e US Open - quadra dura, Wimbledon – grama e Roland Garros – saibro. As grandes diferenças entre os pisos estão no quique da bola e na possibilidade ou não de deslizamento lateral. Na grama a bola sobe muito pouco e normalmente ganha uma aceleração importante após o quique, por conta disso o jogo tende a ganhar em agressividade no saque e na devolução, pois estes movimentos serão decisivos nas conclusões dos pontos, além disso, a grama não permite o deslizamento, vários atletas profissionais têm reclamado muito com seus patrocinadores dos solados de seus calçados de grama, pois eles estão agarrando demais; No saibro o quique da bola é mais alto, o que permite uma preparação relativamente longa para os golpes, mais trocas de bola no fundo de quadra associada a muitos deslocamentos laterais com deslizamento são necessárias para as decisões dos pontos, são duas formas distintas de se jogar tênis, tanto tática como fisicamente. A quadra dura apresenta uma combinação entre os outros dois tipos de piso, o quique é intermediário e o estilo saque-voleio muito utilizado para a definição dos pontos como na grama, porém ultimamente tem se observado de forma muito freqüente “rallies” de fundo de quadra como no saibro. Num trabalho publicado no periódico Medicine and Science in Tennis por Per Bastholt, um dos 5 fisioterapeutas que supervisionam os torneios da ATP, onde foram apresentados resultados de uma pesquisa realizada ao longo de três anos, onde os atendimentos médicos/fisioterapêuticos em torneios da ATP foram catalogados nos três diferentes tipos de piso. Em relação a área corporal as lesões de membro inferior foram as mais freqüentes 35-50%, seguidas da região da coluna 20%, membro superior 20% e outras áreas entre 15-30%. Em relação ao tipo de piso, levando-se em conta apenas atendimentos para o membro inferior, na grama e na quadra dura, quase 2 atendimentos médicos foram realizados para cada 5 jogos, sendo que apenas a metade foram realizados nos torneios em saibro, ou seja, 1 atendimento para cada 5 jogos. Porém, como vi num simpósio realizado no dia que antecedeu a Copa Davis aqui no Rio, a relação se inverte quando levamos em conta a coluna e os membros superiores, ou seja, no saibro a necessidade dos atendimentos é maior do que na quadra dura e do que na grama, respectivamente. E para que servem essas informações? Bem, com elas podemos tanto ajudar a prevenir lesões, como podemos acelerar o retorno do atleta (profissional, amador competitivo ou amador recreacional) a sua atividade esportiva. Sabendo da maior incidência de lesões no membro inferior em quadras duras, principalmente devido a uma alta intensidade nas freadas, acelerações, desacelerações e giros sobre uma superfície que não permite o deslizamento lateral, devemos realizar um bom aquecimento antes da partida e também enfatizar os alongamentos para o membro inferior antes e depois da partida, minimizando a possibilidade do aparecimento das diversas tendinites e tendinoses que perseguem os tenistas, além disso a utilização de “braces” de tornozelo podem estar indicadas para evitar as entorses. Já no saibro, onde a troca de bola demora mais tempo e há uma necessidade maior dos movimentos de torção do tronco para acelerar a bola, devemos enfatizar, além de um bom aquecimento, o alongamento da musculatura do tronco e dos membros superiores. Podemos colocar um atleta que se encontra em tratamento mais cedo da seguinte forma, se ele tem lesão dos membros inferiores, indicamos uns retornos no saibro onde as freadas são menos intensas e menos freqüentes, se o paciente tem lesão na coluna ou nos membros superiores, podemos indicar um retorno numa quadra dura, pois os pontos duram menos e o estresse nas estruturas em recuperação seria menor. É lógico que estamos apresentando linhas gerais, cada paciente deve ser avaliado e tratado de forma individualizada, onde o que é verdade para um pode não ser para o outro, uma dica que podemos generalizar é: Se você quer iniciar a pratica do tênis, primeiro prepare-se fisicamente, a grande incidência de lesões musculares e tendinosas dos atletas recreacionais ocorre devido à falta de condicionamento físico e de um bom alongamento muscular, e segundo, faça com um professor habilitado, ele será capaz de orienta-lo tecnicamente de forma a evitar várias lesões freqüentes relacionadas a técnica inadequada.

    Principais causas de lesões provocadas por treinamento

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    Supertreinamento: isto é, treino exagerado, que pode resultar em lesões nos atletas. Pode ser resultado de exercícios de curta duração e alta intensidade ou por exercícios de longa duração e baixa intensidade. A prevenção para essas lesões é evitar grandes aumentos no volume (número de dias por semana) ou na intensidade do treinamento (por exemplo, levantar peso, aumentar a distância da corrida). Aplica-se a regra dos 10%, que sugere que não se aumente mais do que 10% na intensidade ou na duração do treinamento. Por exemplo, um corredor que corre 20 quilômetros por semana pode aumentar a sua distância na semana seguinte para 22 quilômetros. O uso de calçados inadequados: com a tecnologia atual pode-se contar com calçados específicos para cada modalidade esportiva. Os pés são o ponto de apoio que permitem ao indivíduo adotar as posturas adequadas às várias atividades físicas. Portanto, se o alicerce não for bom, a construção pode desmoronar e é isto que pode acontecer com o corpo humano, além das dores nos pés, tornozelos, joelhos e na coluna. Superfície de treinamento: evitar correr em superfícies muito duras, como asfalto e concreto, tanto em aclives como em declives. Hoje, nas Artes Marciais, já se tem o piso emborrachado que já traz muito conforto e alívio aos impactos sofridos pelo corpo. Alimentação inadequada e falta de hidratação: Estar sempre com a dieta equilibrada de acordo com os 3 macro nutrientes da cadeia: carboidratos, proteínas e gorduras. Estar atento à hidratação antes, durante e após os treinamentos, com a reposição correta e balanceada dos eletrólitos, que são perdidos com a transpiração exagerada. O que fazer neste momento? Procurar um nutricionista especializado.
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